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Ousada, mas irregular, “Vade Retro” não convenceu nem mesmo a Globo

Mauricio Stycer

30/06/2017 00h28


Longe da TV aberta desde "O Dentista Mascarado", um dos grandes fracassos da Globo em 2013, Alexandre Machado e Fernanda Young ganharam nova chance em 2017. O resultado não foi, em matéria de audiência, tão frustrante quanto o da série protagonizada por Marcelo Adnet, mas ainda assim "Vade Retro" ficou longe de representar uma volta por cima.

Encerrado nesta quinta-feira (29), depois de 11 episódios, o novo trabalho de Machado & Young não vai deixar maiores saudades. Provocou algumas boas risadas, é verdade, mas ficou mais uma vez no meio do caminho. Entre a boa intenção e o resultado frustrante, não conseguiu envolver o espectador no mundo fantástico imaginado.

Repleto de referências "espertas" e trocadilhos infames, protagonizado por personagens sem glamour algum, "Vade Retro" repetiu "O Dentista Mascarado" tanto no que teve de positivo quanto negativo. Foi louvável a tentativa de fugir do óbvio, mas frustrante a incapacidade de ir além da colcha de retalhos e construir uma história mais orgânica.

Monica Iozzi no seu primeiro papel como protagonista de uma ficção na emissora foi um dos maiores prazeres de "Vade Retro". O outro foi Tony Ramos, esbanjando versatilidade no papel de Abel Zebu, o diabo em carne e osso.

A atitude da Globo diante da série de Machado & Young sinaliza uma certa decepção. Depois de quatro episódios exibidos na sequência de "A Força do Querer", a emissora inverteu o horário de "Vade Retro" com o da supersérie "Os Dias Eram Assim", jogando-a para o fim de noite.

Estes primeiros quatro episódios registraram média, em São Paulo, de 18,67 pontos. Já os outros seis, no novo horário, ficaram em 13,15 – uma perda de 30%.

Sem considerar o capítulo final, a série alcançou uma média geral de 15,36 pontos, bem melhor que a média de "O Dentista Mascarado", na faixa de 12 pontos.

Se, em 2013, o diretor José Alvarenga culpou o público ("os paulistas odiaram a gente") pelo fracasso da série com Adnet, desta vez o diretor Mauro Mendonça Filho não vai ter muito o que dizer, a não ser que queira saber por que a Globo mudou a série de horário após quatro episódios.

Muito mais ousada e provocativa do que "Os Dias Eram Assim", apesar dos seus altos e baixos, "Vade Retro" talvez tenha sido um experimento inadequado para a TV aberta dos dias atuais.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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