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Temer reclama de “bombardeio” da Globo; TV diz que “não há o que comentar”

Mauricio Stycer

22/05/2017 14h46


Na mesma entrevista à "Folha" em que alegou "ingenuidade" ao receber em sua
residência, tarde da noite, fora da agenda, um empresário investigado pela Justiça, o presidente Michel Temer reclamou do "bombardeio" que está sofrendo de "uma emissora de televisão" (a Globo).

Trata-se de uma questão interessante. O presidente está manifestando uma surpresa que não é apenas sua. Além de ter dado o furo jornalístico que colocou o assunto em pauta, por meio de "O Globo", a cobertura feita pelos telejornais do grupo desde a noite da última quarta-feira (17) chama a atenção pelo volume, extensão e estridência.

Não é preciso ser perito para constatar que Temer se tornou o personagem principal de todos os noticiários da Globo desde então – e sempre com viés negativo.

Até mesmo o "Fantástico", uma "revista eletrônica", com cardápio sempre mais variado, investiu pesadamente no assunto neste domingo (21). De uma edição com 130 minutos, mais da metade (67 minutos) tratou do escândalo recente, com ênfase naturalmente no presidente. Isso para não falar do humorístico "Zorra", que no sábado (20) "derreteu" Temer na abertura do programa (imagem abaixo).

Não creio, porém, que Temer tenha razão ao reclamar do volume e da extensão deste noticiário. As acusações são muitas e são graves – e não recaem sobre qualquer um, mas sobre o presidente da República. Qualquer veículo de comunicação com este nome tem a obrigação de dar tratamento sério ao assunto. É inescapável.

Questionada pelo blog, a Globo disse que "não há o que comentar". Ao dedicar cinco minutos para resumir a entrevista do presidente à "Folha", o "Bom Dia Brasil" (22) ignorou a observação de Temer sobre o "bombardeio" que estaria sofrendo. Um resumo muito semelhante foi exibido pelo jornal "Hoje", igualmente sem mencionar a crítica do presidente.

Atualizado às 16h20.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.