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Record diz que não pensa mais na Globo e cutuca SBT: “Sem mudanças repentinas”

Mauricio Stycer

03/03/2017 15h40

Amargando a terceira posição no ranking nacional de audiência há 14 meses, a Record festejou agora em fevereiro a subida de uma posição, deixando o SBT para trás. Os números do PNT (Painel Nacional de Televisão) mostram que a emissora de Edir Macedo fechou o mês com média de 5,6 pontos, contra 5,2 do canal de Silvio Santos. A Globo manteve a liderança com 13,8 pontos.

Do ponto de vista do investimento em programação, este terceiro lugar da Record sempre foi difícil de entender – o calcanhar de Aquiles da emissora é a madrugada, ocupada por programação da Igreja Universal, que derruba a audiência. Agora em fevereiro, finalmente, mesmo este ponto fraco não foi suficiente para impedir a conquista da vice-liderança.

Vice-presidente artístico da Record desde junho de 2013, Marcelo Silva enxerga a posição alcançada como "resultado de um trabalho pacientemente planejado". Segundo ele, nunca a emissora trabalhou tanto com pesquisas para entender os humores do espectador.

Abandonado o slogan "a caminho da liderança" e a obsessão com a Globo, o foco agora é atender o espectador. "Aqui não mais se dorme e acorda pensando em como passar a Globo. Nosso interesse é sermos bons produtores de conteúdo", diz.

"Acabou-se a era das mudanças repentinas, movidas por estratégias na busca por audiência, em detrimento ao respeito por quem está assistindo e acompanhando nossa programação", acrescenta, numa frase que faz pensar no SBT.

Leia abaixo a íntegra do depoimento solicitado pelo blog, enviado por Silva nesta sexta-feira (3)

"Para nós, o segundo lugar alcançado nas 24 horas do PNT é resultado de um trabalho pacientemente planejado; apesar de que, há muito tempo já somos segundo lugar no horário de 7 da manhã a meia noite, onde mais investimos. Horário que todos sabemos ser o mais importante para os investimentos publicitários.

Certa vez li que a Record gasta mais do que o SBT e, ainda assim, estava em terceiro lugar nas 24 horas do PNT. Gastamos mais, sim, para oferecermos mais conteúdo e de melhor qualidade para os telespectadores. Tenho dito que nossa prioridade é o respeito ao telespectador. Aqui não mais se dorme e acorda pensando em como passar a Globo. Nosso interesse é sermos bons produtores de conteúdo.

Acabou-se a era das mudanças repentinas, movidas por estratégias na busca por audiência, em detrimento ao respeito por quem está assistindo e acompanhando nossa programação. Nos últimos três anos nunca se trabalhou tanto com pesquisa na Record para entender o comportamento e expectativa do telespectador.

Atento a essas pesquisas, demos continuidade ao projeto das novelas bíblicas, fizemos modificações no "Hoje em Dia", que numa decisão corajosa trocamos elenco e direção. Substituímos o "Programa da Tarde"por dramaturgia e a audiência quase que dobrou. Reformulamos o domingo com a estreia do "Domingo Show"e modificações artísticas no programa do Faro e no "Domingo Espetacular". Além das novas contratações, investimentos em realities e séries.

Gostaria de salientar a importância da faixa de novelas das 19:30. Quando decidimos exibir a novela "Escrava Mãe" neste horário, já tínhamos planejado que, se a audiência e faturamento correspondessem, iríamos seguir com "A Escrava Isaura"para termos tempo de produzirmos uma novela inédita, "Belaventura" e, a partir daí, consolidarmos o segundo horário de novelas inéditas.

A respeito da reexibição de "A Escrava Isaura", li críticas de que na Record não tinha quem soubesse planejar. Como professor de história, só tenho que argumentar com a questão sócio-antropológica da "estranheza que o mundo do outro" causa e que dá vida aos preconceitos, guerras, dominação sobre outras culturas, etc. Simplesmente, a forma que um determinado grupo planeja pode ser diferente do outro; mesmo que aos olhos deste seja errada. Isso não quer dizer que não houve planejamento.

Estamos vivendo constantes mudanças no nosso negócio. E elas são cada vez mais rápidas. Exemplo recente é o que acontece com o streaming. Antes reproduziam conteúdo e agora investem em produções próprias de alta qualidade. Justamente onde a televisão sempre reinou. Por isso, continuaremos trabalhando para acompanhar as novas tendências e demandas do telespectador e mercado. Acredito que este segundo lugar agora nas 24 horas no PNT, e já há algum tempo no chamado horário comercial, seja um reconhecimento do telespectador a tudo isso que comentamos."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.