“Se tivesse final feliz, ‘Dois Irmãos’ não seria romance, mas autoajuda”
O último capítulo de "Dois Irmãos" foi exibido na sexta-feira (20), mas a minissérie ainda terá alguns desdobramentos. Neste domingo (22), em São Paulo, a Globo promoveu um debate para discutir a adaptação do livro de Milton Hatoum e lançar uma publicação, chamada "Caderno", com reflexões sobre a relação entre literatura e televisão.
Mediado por Bianca Ramoneda, o encontro reuniu Hatoum, Maria Camargo, que adaptou o romance para a TV, Luiz Fernando Carvalho, diretor da minissérie, e Eliane Giardini, que viveu Zana, a mãe dos gêmeos da história.
Foi de Hatoum a melhor observação da tarde: "Muita gente queria final feliz, mas não há final feliz. Se eu escrevesse com final feliz, não seria romance, seria livro de autoajuda".
O autor de "Dois Irmãos" rejeitou comparar o livro com as adaptações que já teve no teatro, em HQ e na televisão. "Depois de 100 mil leitores, tudo pode acontecer", disse, citando Umberto Eco. "A pior coisa é comparar. São linguagens muito diferentes. Há confluências, conversas", disse, elogiando a "elaboração sofisticada" da versão exibida pela Globo.
Hatoum citou, como exemplo, uma cena bonita da minissérie que não há no livro – as mãos de Zana se soltando de Omar, o filho mais amado, enquanto Yakub, que se sente rejeitado, acena para ela, no passadiço do navio que o levará para o Líbano.
E também mencionou um detalhe que nem ele nem Maria Camargo escreveram, mas foi incluído pelo diretor – uma menção ao livro "Três Contos", de Flaubert, tema de uma aula do personagem Nael (Irandhir Santos) no último capitulo da minissérie. Trata-se de um livro que Hatoum considera fundamental em sua formação – e que traduziu para uma edição brasileira.
Eliane Giardini chorou ao descrever o processo criativo da minissérie. Foram três meses de laboratórios, palestras e ensaios antes do início das gravações. Durante alguns exercícios, Luiz Fernando Carvalho colocou vendas nos olhos dos atores. "E ele me dizia: 'sente o cheiro do teu filho'. Ele conseguiu um estado de entrega muito incomum", disse a atriz. "É o diretor mais amoroso possível, que coloca uma rede e diz: 'pula!' Fico emocionada".
"É preciso um desenraizamento do ego para fazer isso", acrescentou Carvalho. "Ela (Eliane) teve a coragem de abandonar o medo, a vaidade, todas essas besteiras, e mergulhou numa zona de risco muito delicada. E me emocionou muito".
Depois do debate, Leandro Pagliaro lançou "Fotografias – O processo criativo dos atores de Dois Irmãos" (Editora Bazar do Tempo, 208 págs., R$ 60), um livro com imagens que documentam a preparação do elenco que participou da minissérie.
Além das belas imagens, o volume traz depoimentos dos principais atores, uma conversa de Milton Haotum com o elenco e textos de diferentes profissionais envolvidos no laboratório que antecedeu as gravações. As três imagens em preto-e-branco que acompanham este texto são reproduções do livro.
Atualizado às 13h: Na versão original deste texto, escrevi incorretamente a palavra "autoajuda" com hífen.
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