“JN” trata de forma desigual protestos de artistas contra Trump e Temer
O protesto da atriz Meryl Streep contra o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a cerimônia de entrega do Globo de Ouro, em Los Angeles, ganhou o mundo inteiro nesta segunda-feira (09). Foi o evento do gênero com maior repercussão internacional desde que, em maio do ano passado, a equipe do filme "Aquarius" fez uma manifestação, em Cannes, contra o presidente Michel Temer.
O principal telejornal do país, o "Jornal Nacional", deu tratamento caprichado em sua edição desta segunda-feira (09) ao assunto. "A 12 dias de tomar posse, o presidente eleito foi criticado pela atriz Meryl Streep", informou Renata Vasconcellos, chamando a reportagem do correspondente Alan Severiano.
Por dois minutos e meio, o jornalista descreveu os acontecimentos, exibiu trechos traduzidos da fala de Streep, explicou o contexto das duras críticas a Trump, mostrou a resposta do presidente eleito e ainda lembrou que a atriz deve voltar a ser vista em público na cerimônia de entrega do Oscar.
Em maio de 2016, o "JN" deu tratamento muito diferente ao protesto realizado pela equipe do filme "Aquarius", de Kleber Mendonça Filho, em Cannes, o principal festival de cinema do mundo. Naquela ocasião, o diretor, a atriz Sonia Braga e outros membros da equipe passaram pelo tapete vermelho com cartazes dizendo que "houve um golpe no Brasil".
William Bonner, na noite de 17 de maio, resumiu o assunto em 30 segundos – cinco vezes menos tempo do que o dedicado ao protesto de Meryl Streep. Foram exibidas algumas imagens, mas nenhum áudio do protesto. O apresentador informou que a presidente afastada Dilma Rousseff agradeceu o apoio e que o então presidente em exercício Michel Temer não quis se manifestar.
Temer não é Trump, mas me parece desproporcional, ao menos no principal telejornal brasileiro, o espaço dado aos dois eventos. O fato de a Globo ter se manifestado em editoriais contra a tese de que Dilma foi objeto de um golpe não deveria ser justificativa para tanta timidez – como ficou patente agora – na cobertura jornalística do protesto em Cannes.
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