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Enquanto Fátima promove o “hipster da Federal", Porchat ri dele

Mauricio Stycer

24/10/2016 15h46

fatimahipsterfederalA participação de Lucas Soares Valença, agente da Polícia Federal, no programa de Fátima Bernardes na manhã desta segunda-feira (24) é um ótimo exemplo das dificuldades da televisão em lidar com o impacto causado pelas redes sociais.

Valença ficou famoso depois de participar da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha na última quarta-feira (19). Com coque no cabelo e barba, fez a alegria de usuários do Twitter, que o apelidaram de "lenhador da Federal" e "hipster da Federal".

Como ficou claro na TV, Valença informou previamente à produção do programa de Fátima que não poderia falar nada sobre a operação policial. Restou, então, à apresentadora fazer as seguintes perguntas para ele:

– Você tinha quantos seguidores? E tem quantos agora?
– Você sabe o que é hipster?
– Você liga com aparência?
– Entre os colegas, tem ciumeira?
– Entre 'hipster' e 'lenhador', o que você preferiu de apelido?
– O que mais você ouviu de curioso que te fez rir?

É verdade que, em alguns momentos. Fátima tentou propor alguns temas menos rasos – sem conseguir nada. Valença repetiu diversas vezes que não poderia falar nada sério.

A própria apresentadora se deu conta do risco envolvido em transformar uma piada do Twitter em pauta de um programa de televisão em rede nacional. E disse:

"O 'japonês da Federal' fez o maior sucesso. Depois, a gente ficou sabendo algumas coisas e as máscaras de Carnaval perderam um pouco o encanto. Você acha que o pessoal pode investir nas máscaras de Carnaval do 'hipster da Federal' ou vai surgir alguma coisa também para depois a gente não querer mais usar a máscara?" Valença tranquilizou Fátima dizendo que não vai surgir nada contra ele.

Ninguém nega que o fascínio causado pelo "hipster da Federal" seja um bom assunto. O correspondente do "Washington Post" no Brasil, por exemplo, sugeriu: "Estariam os brasileiros tão cansados do escândalo político que preferiram focar em Valença do que no sujeito de meia idade e cabelo grisalho que estava sendo levado?". Dom Phillips perguntou ainda. "Seria esse um sinal de crescente cansaço político sobre uma investigação que se arrasta há mais de dois anos?"

São questões que dariam um ótimo debate, mas não no "Encontro". A apresentadora chegou a perguntar para Valença: "Ninguém quer saber nada disso (sobre Eduardo Cunha)? Só querem saber de você?" Mas não insistiu no tema.

O policial foi ao programa apenas para se promover e o programa o deixou no centro do palco por oito minutos apenas para mostrar que está sintonizado com as piadas das redes sociais.

porchatfederal"Ele tava bem elegante, cheiroso"
Prosseguindo seu tour por atrações da TV, Lucas Valença esteve à noite no "Programa do Porchat", na Record. Mais à vontade do que no auditório de Fátima Bernardes, ele contou alguns detalhes sobre a prisão de Cunha. Confirmou que viajou no avião com o ex-deputado, de Brasília para Curitiba, e informou: "Ele tava bem elegante, cheiroso".

Fazendo piada, Porchat apresentou Valença assim: "Agora a gente sabe que o longo abraço da lei é também musculoso e tatuado". O agente disse que, por causa do seu cabelo, sempre foi motivo de piada no trabalho: "Esse cabelo de viado, aí…"

Porchat até que tentou explorar o tema que está causando espanto geral: "Você não acha esta exposição na mídia pode ser prejudicial para o seu trabalho?" Mas Valença deu a entender que não está preocupado com isso: "Talvez dentro da Policia Federal, em algumas coisas, eu não possa trabalhar. Mas a PF é muito grande, tem muita coisa pra fazer…"

Espantado, Porchat observou que Valença "já tem empresário", fato confirmado pelo agente: "Como eu decidi aparecer, ia ser complicado, né? Porque eu não conheço nada, não sei como as coisas funcionam. Por isso, o ideal era pegar a orientação de quem alguém já conhece".

Brincando, Porchat ofereceu vaga para o agente em "A Terra Prometida", "Power Couple" e "A Fazenda".

Atualizado em 25/10.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

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