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Gazeta censura publicação de vídeo que teria motivado demissão de Ronald

Mauricio Stycer

27/09/2016 16h30

ronaldriosrecord

Cancelado de forma abrupta após a exibição de 16 episódios, "A Semana com Ronald Rios" é hoje um programa-fantasma. A TV Gazeta tirou da internet todos os vídeos, incluindo aquele que é apontado como o responsável pelo fim da atração.

Segundo Ronald, o desaparecimento do programa no site do canal e no You Tube é um caso único. A emissora nega. "A TV Gazeta preserva ou não os materiais na internet de acordo com os seus interesses artísticos e bases contratuais com os envolvidos", informou. "O projeto 'A Semana', como o nome sugere, tratava de assuntos factuais e, portanto, sua preservação nos canais de compartilhamento de vídeo foi considerada desnecessária".

Em todo o caso, o blog conseguiu uma cópia do trecho polêmico, exibido originalmente em 24 de junho. Trata-se de uma piada com Edir Macedo, líder da Igreja Universal e proprietário da Rede Record. O vídeo foi ao ar no blog às 16h30 e teve que ser retirado menos de três horas depois, a pedido da Gazeta, que alegou que "a matéria em questão utiliza um trecho em vídeo com direitos autorais da emissora".

Em seu programa, Ronald comentava notícias da semana e fazia brincadeiras a respeito. No fatídico episódio, ele comentou a informação, divulgada pelo site Notícias da TV, de que a Record estava em negociações para produção de uma série e um filme sobre Suzane von Richthofen.

"Mas a verdade é que Record quer porque quer entrar no mercado de dramaturgia", diz Ronald no vídeo. "Inspirados em 'Narcos' e histórias cheias de crueldade baseadas em fatos reais de alguém tentando enganar todo mundo por dinheiro. Já vazou, até, um trailer do seriado novo deles".

Na sequência, o apresentador resgatou um famoso vídeo, exibido pelo "Jornal Nacional", da Globo, no qual Macedo aparece dando aulas sobre como arrecadar dízimo para a igreja. Incluiu trilha sonora e o exibiu como se fosse o teaser de um seriado, intitulado "Edir Macedo em 'Um bispo no pedaço'".

ronaldedir

Na conclusão, Ronald diz: "Tenho que assistir. Não perderei esse programa por nada. Deixo até de pagar o Netflix esse mês para contribuir com o dízimo."

A emissora informou na ocasião que o programa de Ronald saiu do ar porque "o contrato terminou". Consultado pelo blog, Ronald discorda. "Esse é o vídeo que causou o cancelamento. Três dias depois disso ir ao ar, o programa havia sido cancelado. O responsável pelo meu setor (Núcleo Jovem) não me deu nenhum motivo fora o fato deles quererem 'renovar'. Ele inclusive disse que o programa ia bem de audiência."

A Gazeta nega ter cancelado o programa por conta desta piada. "O projeto 'A Semana' não foi bem avaliado pela emissora, que tinha restrições artísticas ao produto e decidiu descontinuá-lo. O apresentador foi comunicado e reagiu de forma destemperada à notícia, não deixando espaço para uma conversa que poderia ter resultado na produção de um outro produto. Diante disso, o contrato foi denunciado e rescindido com fiel cumprimento das cláusulas pactuadas", diz o comunicado enviado ao blog.

O apresentador diz que, ao contrário, a emissora havia sinalizado interesse em continuar com o programa: "A gente inclusive já tinha recebido o manual do que pode/não pode fazer nas eleições. Eu havia há poucas semanas gravado campanhas institucionais da TV. Sabe, essas coisas de prevenção a dengue. Tinha até gravado uma chamada nova do programa mais ou menos um mês antes disso."

Como faz com outras emissoras, a Igreja Universal compra horários na grade da Gazeta. Internamente, a avaliação é que esta teria sido a causa do afastamento de Ronald e do desaparecimento de todos os vídeos do programa. "Eu me sinto injustiçado porque foi uma questão do canal privilegiar dinheiro sobre conteúdo", diz Ronald. "E no fim das contas, eu acabei me aposentando de TV. É um jogo muito estressante."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.