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Após 75 anos, primeiro romance esportivo brasileiro ganha segunda edição

Mauricio Stycer

17/07/2016 14h42

thomazmazzoniOs mais jovens possivelmente não fazem ideia de quem foi Thomaz Mazzoni (1900-1970), mas ele é considerado, com justiça, um dos principais jornalistas esportivos do país. Dirigiu "A Gazeta Esportiva" em seu auge, criou os apelidos dos principais times de São Paulo (Moleque Travesso, Mosqueteiro etc) e batizou os clássicos (Choque Rei, Majestoso etc), além de ter publicado duas dezenas de livros. Mais importante, nunca se cansou, ao longo da carreira, de apontar os problemas que enxergava no futebol brasileiro.

"Flô, o goleiro 'melhor do mundo'" é o seu único romance. Foi publicado em 1941 e esquecido. Do ponto de vista literário, deixa muito a desejar, mas tem algumas qualidades que justificam a sua reedição 75 anos depois.

mazzoniflocapaTrata-se do primeiro romance brasileiro cuja história gira inteiramente em torno do mundo do futebol. O próprio Mazzoni, na introdução, reconhece as limitações do trabalho e o seu ineditismo: "É possível que a crítica, principalmente a literária, não receba bem este trabalho. Sou apenas um cronista esportivo a tomar uma iniciativa, a primeira do gênero no Brasil: publicar um romance esportivo cem por cento".

A história de "Flô, o goleiro 'melhor do mundo'" se passa no ambiente de um grande clube paulista, no início da década de 40, o fictício Velox F.C. O mau desempenho do goleiro nas últimas rodadas coloca em risco um título que parecia certo e faz aflorar, no ambiente do clube, todas as mazelas que Mazzoni cansou de descrever em seus textos jornalísticos.

Sem ter provas, um repórter escreve que Flô foi subornado para entregar os jogos. Representantes da torcida organizada ameaçam o goleiro. Alguns jogadores do time criticam abertamente o colega. Dirigentes esportivos sem um mínimo de preparo dão trela à pressão e suspendem o goleiro.

Os quatro problemas que afetam Flô já eram conhecidos dos leitores de Mazzoni. Em um de seus livros mais importantes, publicado dois anos antes, "Problemas e Aspectos do Nosso Futebol" ele aponta, exatamente, o comportamento da imprensa sensacionalista, da torcida insuflada e dos dirigentes despreparados como determinantes para o atraso do futebol brasileiro.

A reedição de "Flô, o goleiro 'melhor do mundo'" faz parte do projeto de relançamento de toda a obra de Mazzoni, pela editora LivrosDeFutebol.com, de Cesar Oliveira. É um projeto ambicioso, que conta com o apoio da família.

A segunda edição de "Flô" reproduz a capa e o prefácio do livro original, assinado por Marcos Mendonça. Ao final, há um breve texto sobre Mazzoni assinado por Rafael Silva, autor de uma dissertação de mestrado, ainda inédita, sobre o jornalista. O livro está à venda em edição impressa (R$ 35) e eletrônica (R$ 17).

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.