Topo

Atraso brasileiro transforma cena de amor de novela em ato de coragem

Mauricio Stycer

13/07/2016 00h02

liberdadeandre3
De quebra de tabu em quebra de tabu, a televisão brasileira vai avançando algumas casinhas. Na noite desta terça-feira (12), pela primeira vez, uma novela exibiu uma cena de amor e sexo entre dois homens. O feito coube a "Liberdade, Liberdade", trama da Globo escrita por Mario Teixeira e exibida no final da noite.

A partir de 23h10, por cinco minutos e quarenta segundos, Tolentino (Ricardo Pereira) e André (Caio Blat) primeiro conversaram sobre a "segunda natureza" de ambos, depois se beijaram com intensidade, tiraram a roupa, trocaram carinhos e tiveram a sua primeira noite juntos na cama.

A câmera insinuou mais do que mostrou, como faria se a cena fosse entre um homem e uma mulher. Mas foi bastante clara e forte na exposição dos sentimentos dos dois homens.

Tecnicamente, foi uma cena banal, mas pode ser considerada histórica, em um momento que o embate entre progressistas e conservadores em matéria de moral e costumes está especialmente exacerbado.

Se há algo a lamentar, é apenas o atraso brasileiro em relação a discussão sobre diversidade. Não deveria, já há muito tempo, ser motivo de comoção o que foi visto esta noite em "Liberdade, Liberdade".

Reproduzo abaixo, o diálogo que antecedeu a cena de amor e sexo:

André: Você está melhor?
Tolentino: Não. Não estou nada bem, André. Fui humilhado mais uma vez pelo intendente.
André: Deixe o tempo vai passar. E você vai esquecer.
Tolentino: Acho que desta vez não vou esquecer, não. O intendente passa a vida toda a me espezinhar. Trata-me como um cão. Chegou o meu limite.
André: O intendente é um homem cruel. Mas você tem amigos.
Tolentino: Tenho um único amigo. Meu único amigo é você. Você, André, que é um homem sensível, você que entende os mistérios da vida, as voltas que o mundo dá, as surpresas que a vida nos reserva…
André: Surpresas sobre nós mesmos?
Tolentino: Sim. Você mesmo disse um dia. Todos nós temos uma segunda natureza, que às vezes permanece oculta.
André: Mas não para sempre.
Tolentino: Não para sempre…

Veja também
Cena de sexo de André e Tolentino tem beijo na boca e troca de carícias

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.