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Produtora Fremantle pede desculpas pelo caos na seletiva do "X Factor"

Mauricio Stycer

12/07/2016 14h50


Quem foi responsável pelo caos na seletiva para o "X Factor Brasil"? Dois dias depois do show de horror visto na Arena Corinthians, a FremantleMedia, co-produtora do concurso de talentos, se manifestou a respeito, pedindo desculpas pelos transtornos causados.

A versão brasileira do programa é uma coprodução de três empresas – Band, Turner e FremantleMedia. A parceria envolve a exibição do programa em TV aberta (Band) e paga (TNT), sob supervisão da dona do formato (FremantleMedia), que tem uma filial no Brasil desde 2003.

A íntegra da nota da empresa enviada ao blog é a seguinte:

"Nós gostariamos de nos desculpar sinceramente por quaisquer atrasos e inconvenientes que os participantes experimentaram durante a primeira audição que aconteceu para o X Factor Brasil. O entusiasmo gerado em torno do programa em todo o país superou em muito as nossas expectativas. Nós não havíamos antecipado o grande número de pessoas que gostariam de participar das audições do programa. Medidas estão sendo tomadas para evitar futuros atrasos e para fazer com que o processo de audições daqui para frente aconteça sem incidentes."

Abaixo, em mais um depoimento recebido pelo blog, enviado por Jô Neves, é possível ter uma ideia do que ocorreu:

Juntos na fila por intermináveis 17 horas

"A audição do 'X Factor Brasil' no dia 9 de julho foi uma grande demonstração da desorganização, descaso e desrespeito ao próximo, com direito a arrastões! Veja o que dizia a convocação:

'Você está liberado para trazer sua família e amigos. Eles devem estar junto com você para ter acesso ao local.'

Chegamos lá às 8 horas da manhã, todos os estacionamentos estavam fechados e não havia qualquer pessoa que pudesse passar informação.

Após algum tempo parei no Portão E4, local indicado para a fila. Assim que parei, um dos raríssimos seguranças do evento disse que eu não poderia parar ali. Expliquei que estava desembarcando as pessoas, que não estava encontrando a entrada do estacionamento e se ele podia me dizer onde ficava a entrada. Ele disse que não estava ali para dar informações, que não era segurança do evento e sim de uma empresa terceirizada, que eu tentasse o estacionamento do shopping que era bem próximo.

Não havia água, comida, nada!!!!!

De manhã frio intenso com ventos, sol à tarde, com muito frio à noite e madrugada adentro. Apesar de chegarmos lá às 8 horas da manhã do dia 9, a audição só aconteceu às 1h30min do dia 10, ou seja, após 17 horas de espera. Muitas pessoas passaram na nossa frente, não havia qualquer tipo de organização na fila. Quando chegamos vimos claramente a quantidade de pessoas que já estavam lá e na hora que saímos tivemos a dimensão da quantidade de pessoas que de alguma forma passaram na nossa frente. Como? Não sabemos!! Criamos grupos na fila e sabíamos quem estava na nossa frente e atrás de nós e seguimos juntos na fila por intermináveis 17 horas.

Passamos o dia nos revezando com idas ao shopping Itaquera para usar o banheiro, comprar água, comida! A grande maioria dos nossos colegas de fila não tinha dinheiro para comprar um copo de água, o que só não foi um problema pois eu tinha levado uma quantia em dinheiro que permitiu a compra de água e alimento pra todos ali do grupo que se tornaram amigos da fila.

Senti-me feliz de estar ali e poder ajudar aquelas pessoas.

Após as 13h surgiram alguns ambulantes que passaram a vender água, balas, maçãs, etc. Foi excelente a presença destes ali.

Nas instruções passadas via e-mail devíamos permanecer na fila sempre juntos com o participante.

Após sete horas de fila dentro de um pátio sem cobertura, água, comida, banheiro e sequer informações, foi anunciado no megafone que estava proibido a entrada de acompanhantes, não seria mais permitida a entrada dos convidados, somente o participante e o responsável, no caso de candidatos menores de idade, colocando o participante numa situação absurdamente constrangedora e vexatória.

Como convidados autorizados via e-mail, depois de termos passado fome, sede, frio e calor durante longas e desgastantes 7 horas, simplesmente fomos descartados como lixo. Estão proibidos e pronto.

Quando você procurava por algum representante do evento pra pedir informação a primeira coisa que você ouvia era que não tinha informações, que era somente estagiário e que não fazia parte do staff. Durante 17 horas não conseguimos falar com alguém que não se intitulasse estagiário e que estava trabalhando somente na parte interna do evento.

Foi assim que, às 19h, um estagiário, em voz baixa, disse para as pessoas que estavam na frente da entrada que audição estava sendo encerrada.

Basta dizer que essa informação durou somente alguns segundos, pois houve uma grande e imediata reação de inconformismo por todos que ali estavam por 11 horas na fila e diante do risco de revolta os organizadores voltaram atrás.

Quem estava um pouco atrás sequer soube a razão daquele tumulto momentâneo, só ouviu o barulho e em seguida a fila que estava parada começou a andar.

A nossa chegada ao local foi às 8h da manhã e a audição, se é que pode se chamar aquilo de audição, foi à 1h30 da manhã."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.