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Nunca o nome de Deus foi tão citado na TV quanto em “Os Dez Mandamentos”

Mauricio Stycer

04/07/2016 12h48

dezmandamentosmoisesvelhoA Record exibe nesta segunda-feira (04) o último capítulo de "Os Dez Mandamentos – Nova Temporada". A novela ficou longe de alcançar os mesmo picos de audiência da trama original, exibida entre março e novembro de 2015, mas pode ser considerada um fenômeno ainda maior.

Idealizada basicamente para faturar e prolongar o sucesso alcançado no ano passado, esta continuação começou justamente onde terminam os acontecimentos mais relevantes da história relatada pelo Velho Testamento: o encontro de Moisés com Deus no Monte Sinai e a entrega das tábuas da Lei aos hebreus.

dezmandamentosnamoroVivian de Oliveira fez mágica para escrever os 66 capítulos desta "nova temporada". Quase sem nada para descrever, a autora transformou a novela numa espécie de "Malhação bíblica", com inúmeras historinhas de namoros, rejeições, dúvidas sobre intenções amorosas, adultério, beijos e paquera.

Com fiapos de referência ao Pentateuco, a autora também se viu obrigada a apelar, bem mais do que na primeira fase, ao proselitismo religioso e à catequese. Nunca o nome de Deus foi tão citado na televisão quanto nestes 66 capítulos – tanto para explicar desilusões amorosas, quanto para justificar atrocidades militares e infelicidades variadas.

Na reta final, os hebreus enfrentaram alguns inimigos a caminho da Terra Prometida. Comandado por Josué (Sidney Sampaio), o exército não se mostrou capaz, sozinho, de vencer as batalhas. Com a ajuda de "efeitos especiais", o braço de Deus apareceu, inúmeras vezes, parar segurar os braços do inimigos e empurrar as espadas dos heróis.

É até caso de se pensar se um dos Mandamentos ("Não usar o nome de Deus em vão") não foi ignorado pela autora.

E o Ibope?

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Com 176 capítulos, a novela original teve um desempenho surpreendente e extraordinário ao longo dos nove meses de exibição, em 2015. Partiu de uma média de 12 pontos no Ibope, em São Paulo, e foi crescendo, semana a semana, até chegar a uma média de 24 pontos em seu ápice.

Já esta segunda fase, uma continuação, na verdade, partiu de uma média inicial muito mais alta, 16 pontos, e oscilou entre 13,5 e 17,5 ao longo das suas 13 semanas de exibição (veja o gráfico acima).

Por este motivo, embora jamais tenha ido além de 19 pontos, na média geral, os 66 capítulos exibidos em 2016 conseguiram um resultado bem semelhante aos 176 do ano passado, em torno de 16 pontos.

A "segunda temporada" repetiu o desempenho da primeira em um aspecto curioso: o ápice da audiência ocorreu nove capítulos antes do fim. Nas duas, o pico foi registrado em capítulos promovidos pela emissora como especiais, por conta de eventos bíblicos extraordinários.

Em novembro de 2015, o recorde foi batido no capítulo em que o Mar Vermelho se abriu para a fuga dos hebreus do Egito – 28 pontos. Nos dez capítulos seguintes, a audiência caiu, chegando a 17,5 e recuperando-se no capítulo final, com 22 pontos.

Desta vez, o recorde foi registrado no dia 21 de junho, quando a terra se abriu para engolir o vilão Corá e seu bando. A novela registrou, então, 19,1 pontos. Nos capítulos seguintes, caiu até 16,2. No penúltimo capítulo, exibido nesta sexta-feira (01), marcou 16,7 pontos.

O que parece claro, analisando os números das duas partes da novela comparados aos demais resultados da Record, é que houve um público especificamente interessado nesta trama bíblica. Nem em 2015 nem agora, a emissora conseguiu reter uma parcela da audiência que diariamente sintonizou para ver "Os Dez Mandamentos".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

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