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SBT, Record e Globo exibem entrevistas “exclusivas” com vítima de estupro

Mauricio Stycer

29/05/2016 19h27

estuprosbtestuprorecordestuprogloboAssunto da semana, o estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos no Rio foi o prato principal da programação de TV na noite deste domingo (29). As três principais emissoras de TV aberta realizaram entrevistas com a jovem, todas anunciadas como "exclusiva".

O "Conexão Repórter", do SBT, foi o primeiro a falar com a jovem, mas o último a exibir a sua entrevista, por volta da meia-noite. Um trecho da conversa com Roberto Cabrini foi exibido no telejornal "SBT Brasil" na última sexta-feira (27).

A Record exibiu a sua entrevista, feita por Vinicius Dônola, no "Domingo Espetacular". A emissora divulgou em seu site um breve trecho, no qual alterou a voz da adolescente com um recurso eletrônico, impedindo o seu reconhecimento. Ao apresentar a conversa no programa, a voz da jovem foi ouvida normalmente.

Já a Globo exibiu a sua entrevista no "Fantástico". A emissora não promoveu trechos previamente, mas a informação de que esta seria uma atração "exclusiva" do programa foi divulgada à tarde, no meio da transmissão de futebol da emissora. A repórter Renata Ceribelli conversou com a moça, que teve sua voz alterada.

Se as três emissoras exibiram na mesma noite entrevistas com a mesma pessoa é correto dizer que são "exclusivas"? Segundo o "Manual de Redação" da "Folha", não se deve fazer isso. "Não use a expressão 'entrevista exclusiva' quando uma personalidade concede entrevistas individuais a vários veículos de comunicação em um mesmo dia", recomenda o jornal.

Por este critério, o correto seria dizer "em entrevista ao SBT", ou "em entrevista à Record", não "em entrevista exclusiva".

Na minha opinião, se as emissoras conseguiram as suas entrevistas em situações e dias diferentes, não seria errado considerarem, cada uma, a sua "exclusiva". Mas, sabendo que as três seriam exibidas na mesma noite, teria sido aconselhável não fazer este tipo de autopromoção.

Para o espectador, fica a impressão de que está sendo iludido.

Veja trecho do "Conexão Repórter":

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.