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Rindo democraticamente da política, Zorra se arrisca, mas ganha relevância

Mauricio Stycer

14/05/2016 23h52

Em seu primeiro ano, em 2015, o "Zorra" já havia enveredado pela política, explorando o tema da corrupção em alguns quadros. Mas foi na estreia da segunda temporada, agora em abril, que o humorístico da Globo mostrou a intenção de ir fundo no assunto, com referências óbvias e, às vezes, explícitas aos principais personagens de Brasília.

Logo no primeiro programa de 2016, o "Zorra" mostrou que a única maneira de fazer isso seria rindo de todos os espectros do universo político. Assim, o programa primeiro tripudiou da nomeação de Lula para ser ministro do governo e depois fez piadas com os problemas judiciais que envolvem os nomes na linha de sucessão da presidente Dilma.

Assinalada esta intenção ampla, geral e irrestrita, desde então não tem faltado humor político no programa. A votação do pedido de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados já foi tema de quadros em dois episódios.

Neste sábado (14), mais uma vez, os alvos foram variados. Primeiro, foi a cúpula do governo Temer, ironizada sem piedade no quadro de abertura. Cinco políticos discutem a formação do ministério, mas todas as sugestões de nomes esbarram no fato de que os indicados têm problemas com a Justiça – inclusive os próprios homens da cúpula.

zorrawbrasil2Em outro quadro, o refrão da música "W Brasil", de Jorge Benjor, virou "Alo, alô, roubaram o Brasil", com inúmeras referências a problemas que envolveram os governos Lula e Dilma – Lava Jato, mensalão, petrolão e até sítio de Atibaia.

Esta novidade da segunda temporada mostra que o "Zorra" segue afinado com os problemas reais do cotidiano, como fez no primeiro ano. A crise política, afinal, é o principal assunto do Brasil em 2016.

Rindo democraticamente das principais forças políticas, o programa de Marcius Melhem e Maurício Farias evita ser envolvido no "Fla-Flu" que tomou conta do país. Não é a favor de nenhum poderoso, muito pelo contrário.

A exposição no horário nobre da Globo eleva os riscos, claro. Muita gente não deve estar gostando das piadas e a pressão para diminuir o ímpeto deve existir. Por outro lado, a emissora deve estar apreciando ver um programa de humor da casa voltar a ter relevância, ser comentado e discutido.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.