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Sessão de mais de 20 horas no Senado frustra e inibe cobertura da TV

Mauricio Stycer

11/05/2016 10h25

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Iniciada às 10h de quarta-feira (11), e encerrada mais de 20 horas depois, às 6h39 de quinta (12), a sessão do Senado destinada a votar a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma não foi um bom evento para as emissoras de TV.

Ao vivo, de Brasília, no "Jornal da Record", o repórter Eduardo Ribeiro resumiu o drama: "O Brasil vai dormir com Dilma na presidência e acordar com Temer no cargo".

Ainda à noite, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) previu que a sessão iria até as 7 da manhã. Quase acertou. "Quem queria aparecer no 'Jornal Nacional' vai acabar no 'Bom Dia Brasil"', disse a Bernardo Mello Franco, colunista da "Folha".

Como exibir uma sessão com duração de quase um dia? As principais emissoras, com exceção do SBT, optaram por exibir flashes ao longo de todo a quarta-feira, em meio à programação normal. Nos telejornais noturnos, a votação, obviamente, foi o assunto principal.

Sem poder informar o resultado da votação, William Bonner encerrou o "Jornal Nacional" prometendo voltar à bancada para anunciar o desfecho no momento em que os números seriam conhecidos. Não deu. Quem anunciou os números finais na Globo foi Alexandre Garcia, em plantão do "Bom Dia Brasil".

horaumwaackPela manhã, a Globo deu início aos trabalhos às 5h, com William Waack, apresentador do "Jornal da Globo", excepcionalmente ao lado de Monalisa Perrone no comando do "Hora Um". O SBT, com o seu "Primeiro Impacto", entrou ao vivo a partir das 6h, assim como Record, Band, RedeTV!, TV Brasil e Cultura – todos com imagens da TV Senado.

Em 17 de abril, um domingo, na votação na Câmara dos Deputados, as emissoras optaram por exibir na íntegra as justificativas de voto de 513 deputados. O show durou seis horas – e pareceu interminável, com aquele desfile de parlamentares votando em nome de Deus, da família e de seus currais eleitorais.

Desta vez, cada senador inscrito teve direito a discurso de 15 minutos. Por este motivo, nenhuma das principais emissoras teve a coragem de exibir a sessão na íntegra, poupando os espectadores.

"Ouvindo baboseiras"
lucianofaccioli2Lançado esta semana para competir com "Cidade Alerta", da Record, e "Brasil Urgente", da Band, o programa "Olha a Hora" deu tratamento especial à votação do pedido de impeachment no Senado, na tarde de quarta-feira. Sob o comando de Luciano Faccioli, o vespertino da RedeTV! se destacou pela irreverência dedicada à solene sessão.

"Não vão ficar ouvindo baboseira aqui, não", disse Faccioli aos espectadores, depois de mandar cortar a imagem do discurso de um senador. "Haja (saco)", resmungou. "Os 15 minutos de fama que os senadores têm direito, aqui não. Cinco minutos estava de bom tamanho."

Em outro momento, questionando uma repórter em Brasília que estava próxima ao Palácio do Planalto, o apresentador foi irônico: "Já passou caminhão de mudança?" A jornalista informou que só havia visto um caminhão de som.

SBT com Disney
renancalheiros2016A abertura da histórica sessão no Senado, que decidiu pelo afastamento da presidente Dilma, começou às 10h com transmissão ao vivo das principais redes de televisão do país.

Globo, Record, RedeTV! e Band interromperam suas programações para mostrar as primeiras palavras do senador Renan Calheiros, abrindo a sessão. TV Brasil e TV Senado também transmitiram o evento. A TV Cultura perdeu o início da transmissão, mas mostrou logo depois um resumo da abertura.

Só o SBT seguiu com a sua programação normal, o "Mundo Disney". Como ocorreu em 17 de abril, quando a Câmara dos Deputados votou pela admissibilidade do processo de impeachment, a emissora de Silvio Santos ignorou a maior parte da sessão no Senado.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.