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“Em novela longa, ator samba de acordo com a música”, diz Mateus Solano

Mauricio Stycer

29/04/2016 05h01

LiberdadeLiberdadeMateusSolanoNão é todo dia que se vê um ator em cartaz, ao mesmo tempo, na TV, nos cinemas e em um teatro. No caso de Mateus Solano, não apenas as opções que ele oferece são de boa qualidade como mostram o seu prestígio.

Ele é um dos protagonistas de "Liberdade, Liberdade", o principal personagem do filme "Em Nome da Lei" e um dos dois intérpretes (ao lado de Miguel Thiré) da comédia "Selfie", no Rio.

Nesta entrevista ao UOL, feita por telefone, Solano fala sobre estes três trabalhos e mais um pouco. Ele entende que "Liberdade, Liberdade" traz uma mensagem forte sobre a permanência da corrupção no Brasil. "Está no berço da nossa civilização", diz.

O ator compara a dificuldade envolvida em uma novela de curta duração, como "Liberdade, Liberdade", e uma que dura oito meses, como "Amor à Vida", na qual se consagrou com o personagem Felix: "Em uma obra aberta, você vai sambando de acordo com a música que vai tocando", diz.

Na entrevista, Solano também fala sobre uma carta que seu advogado escreveu, destinada a veículos de comunicação que publicarem fotos de seus filhos. "Não me importo que a indústria bilionária da fofoca ganhe dinheiro às custas do meu trabalho, mas não às custas de menores de idade", afirma. Veja abaixo:

MateusEmNomedleiÉ possível fazer uma associação entre os dois personagens que você está interpretando no momento, o juiz Vitor no filme "Em Nome da Lei" e o intendente Rubião na novela "Liberdade, Liberdade"? Ambos são personagens ambíguos..
Mateus Solano: Os dois orbitam em torno da lei e da justiça. Mas não concordo que eles sejam igualmente ambíguos. O Vitor quer a justiça a qualquer preço, com muito ímpeto, e isso vem junto com uma vaidade. É o herói da história. Já o Rubião é o típico político corrupto, oportunista, que se aproveita do cargo para benefício próprio. Ele vai criar impostos para encher os cofres da intendência, sempre botando a culpa em Portugal.

Bem atual…
Os maus políticos fazem muito isso: empurrar o problema para o outro. Estamos vendo isso agora, no Rio, com o caso da ciclovia. Não aparece uma pessoa para dizer "fui eu" o culpado. É sempre uma coisa encoberta.

Você acha que o objetivo de "Liberdade, Liberdade" é mostrar que algumas questões seguem sem solução no Brasil?
Não acho que seja o objetivo, mas quando a gente vê o contexto histórico é exatamente isso. A corrupção está no berço da nossa civilização. No berço mesmo, na troca de espelhinho. Isso é retratado pela novela e suscita estas questões, mas o objetivo final, mesmo, é entreter. A novela começou muito histórica, no primeiro capítulo, mas agora é uma obra de ficção.

Você já fez algumas novelas tradicionais, com longa duração, e está fazendo pela primeira vez uma mais curta, com cerca de 60 capítulos. Para o ator, o que é melhor?
É muito diferente. O Mario Teixeira (autor de "Liberdade, Liberdade") já escreveu metade da novela. São quatro capítulos por semana, muito curtos, na minha opinião. Numa novela das 21h, além de muito mais longa, a duração de cada capítulo também é maior. É muito tempo. Não é nada monótono. Mas acho que estamos caminhando para novelas mais curtas, mais qualidade em detrimento de quantidade, e novas formas de fazer.

amoravidafelixO que é melhor para o ator? Lembro que em "Amor à Vida", o Felix começou de um jeito e acabou de outro, totalmente diferente.
Em uma novela fechada, você compõe com início, meio e fim. Em uma obra aberta, você vai sambando de acordo com a música que vai tocando. É uma grande diferença.

Como foi a primeira semana do filme?
Não foi o arrebatamento de uma comédia escrachada, mas foi uma ótima bilheteria. Esse início é fundamental. É quando os filmes brasileiros lutam para permanecer em cartaz. É crucial.

Essa predileção do público pela comédia escrachada é um problema?
Não chamaria de problema. É uma característica da educação que a gente tem, do mercado. É um desafio educar o nosso povo a apreciar coisas um pouco mais complexas. Ele vai no fácil porque sabe que aquilo vai dar certo, com as figuras que já fazem sucesso na televisão. E isso dá dinheiro, dá retorno. A gente vive num mundo capitalista. As pessoas querem dinheiro antes de qualquer outra coisa. Isso não é só no Brasil.

mateusselfieAlém do filme e da novela, o que mais você está fazendo?
Estou com a peça "Selfie". É um grande sucesso no Rio e vai para São Paulo em setembro. Tenho o maior carinho. É o meu maior sucesso no teatro e olha que já fiz muito teatro.

A que você atribuiu esse sucesso?
Além de divertir, ela apresenta um espelho da nossa relação esquizofrênica com o celular, que invade nossas relações. A gente não critica através da palavra, mas mostra situações. Dois atores e um palco nu. É um trabalho preciso, ao mesmo tempo sério e divertido.

Você mandou uma carta a alguns veículos de mídia pedindo respeito à privacidade dos seus filhos. Você pode explicar isso?
Esse é um direito de qualquer pai que se vê participando, passivamente, no caso, desta indústria bilionária da fofoca. Não pretendo lutar contra ela. Muito pelo contrário. Tenho uma relação muito tranquila com a imprensa – seja qual for a imprensa: marrom, verde, roxa, amarela. Meu advogado escreveu. Eu tenho a escolha de privar meus filhos da exposição.

Você mandou esta carta para quem?
Ela está com meu empresário e é enviada sempre que alguém tira fotos para expor os meus filhos e ganhar dinheiro. Não me importo que esta indústria ganhe dinheiro às custas do meu trabalho, mas não às custas de menores de idade. Vou sempre falar da minha família, mas a exposição física de menores de idade é errada.

É protegida pela lei.
Isso. Muitos dos meus colegas não têm nenhum problema quanto a expor seus filhos. Eu respeito. Mas acho que é um direito meu, como pai, preservar. Minha intenção não foi, em momento algum, ameaçar, mas explicitar minha opinião sobre esse assunto. Pode falar do meu cabelo, de mim todo, mas que preservem a privacidade dos meus filhos.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.