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Por que o programa de Luciana Gimenez piorou tanto em dois anos

Mauricio Stycer

30/03/2016 10h22

lucianagimenez2016
Em abril de 2014, recebi Luciana Gimenez no estúdio do UOL para uma entrevista. A apresentadora da RedetV! estava radiante. Ela contou que nos meses anteriores havia recebido sondagens e convites para apresentar programas na Record e na Band, além de ter gravado um piloto na rede americana ABC.

Orgulhosa, afirmou que o "Superpop" havia se transformado numa referência para o mercado. "Nós criamos uma identidade que todo mundo copia. Copia não, se inspira", disse. E deu os seguintes exemplos: "Às vezes eu olho para o 'Esquenta' e superparece com o 'Superpop'. No 'Big Brother' e na 'Fazenda' vão os personagens que a gente descobre no 'Superpop'. Outro dia, vendo uma discussão no 'Na Moral' era o 'Superpop', com as mesmas pessoas."

superpopfelicianoDois anos depois, o programa de Luciana se tornou uma caricatura dele mesmo. As pautas estão cada dia mais óbvias e repetitivas, sempre buscando causar polêmica a qualquer preço. Os convidados se repetem, com ênfase igualmente nos "causadores" de confusão – Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Agnaldo Timóteo são habituês do estúdio da emissora.

Pior, a apresentadora parece desinteressada e alheia ao que ocorre. Com exceção de uma entrevista com Mick Jagger, a única que ele deu em sua recente passagem pelo Brasil, Luciana Gimenez não produz conteúdo minimamente interessante há meses. O programa esbanja preguiça, mau gosto e tédio. É um desperdício, uma vez que poderia ser uma opção diante de concorrentes igualmente pouco inspirados.

Em entrevista recente ao jornalista Ricardo Feltrin, Luciana disse: "O problema é que a gente trabalha numa TV aberta no Brasil. Então, não adianta eu falar do mundo da moda na França, que eu falo muito bem. Eu falo até em francês. Mas ninguém ia querer ver. O povo gosta das coisas realmente simples". E mais: "O povo quer entretenimento, polêmica".

Não há nenhum problema em fazer um programa popular, divertido e polêmico. O que acontece é que o "Superpop" parece estar sendo feito no automático, se tornou repetitivo. São sempre os mesmos assuntos, as mesmas pessoas e as mesmas polêmicas forçadas. Isso mostra falta de criatividade.

Simpática, bonita, desembaraçada, a apresentadora está hoje diante de um programa que provoca sensação em tudo oposta ao que ela representa: tristeza. Isso. "Superpop" está uma tristeza só.

Abaixo, a entrevista de Luciana a Feltrin:


E aqui a entrevista de Luciana em 2014:

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.