Livros apresentam duas faces do jornalismo que prospera na internet
O jornalismo, nas últimas duas décadas, está vivendo a transição (dolorosa, diga-se) do impresso para a internet. Dois livros recém-lançados buscam mostrar, para quem ainda não conhece, duas experiências que encontraram na rede digital o espaço perfeito para florescer.
"58 Listas – 33 úteis & 25 nem tão úteis assim" (Paralela, 192 págs., R$ 29,90), de Manuela Barem, reúne alguns bons exemplos do que a filial brasileira do BuzzFeed produziu nos últimos anos.
Fenômeno de audiência nos Estados Unidos, o site ficou conhecido por seu "jornalismo de listas" – uma forma bem-humorada, atraente e superficial de apresentar informações sobre temas da atualidade.
Para muitos, o BuzzFeed representa a pior face da profissão, a da busca desenfreada por cliques. Para quem faz, como Manuela mostra no livro, é uma maneira lúdica de lidar com fatos, sejam eles relevantes ou não, atuais ou antigos.
Sou especialmente fã das listas que expõem o universo das celebridades e a própria internet. Feitas com certa solenidade, elas ajudam a mostrar um mundo muito bizarro. Coisas como "15 tipos de pessoas no Facebook que não mostram nenhuma evolução da humanidade" ou "17 dos mais importantes tweets de celebridades de todos os tempos".
Já "Sensacionalista – isento de verdade" (Belas Letras, 192 págs., R$ 29,90), de Leonardo Lanna, Martha Mendonça, Marcelo Zorzanelli e Nelito Fernandes, apresenta uma antologia de falsas notícias publicadas pelo site de humor.
Inspirado no absurdo da realidade, o trabalho do grupo frequentemente confunde os mais incautos, apesar do nome e do aviso permanente de que não é verdadeiro. Buscando, talvez, uma maior perenidade, o livro não inclui o falso noticiário sobre a crise política brasileira, mas há fartos exemplos do bom humor e da genialidade dos seus criadores nas páginas.
Curiosamente, é também nas sátiras ao universo digital que o Sensacionalista alcança grandes momentos. "Publicar fotos ruins de amigos no Facebook pode dar de seis meses a um ano de cadeia". Ou: "Facebook terá o botão 'caguei'." Ou ainda: "Zuckerberg vai cobrar aluguel de quem está morando no Facebook".
É importante dizer que nem o "jornalismo de listas", como faz o BuzzFeed, nem o "jornalismo de humor", do Sensacionalista, nasceram na internet. O primeiro tipo sempre existiu, especialmente em revistas. Já o segundo é um gênero com forte tradição em diversos países.
No Brasil, houve várias experiências de jornalismo de humor – uma relativamente recente, o "Planeta Diário", lançado em 1984 por Hubert, Reinaldo e Claudio Paiva, está na origem do grupo que iria criar, na televisão, o "TV Pirata" e o "Casseta & Planeta".
Os livros do BuzzFeed e do Sensacionalista funcionam como uma espécie de convite a leitores que ainda não os conhecem ou não abraçaram a internet. Será que existem? O site de humor não deixa de fazer piada na própria capa com este aparente paradoxo: "Pagar por livro que está na internet é sinal de genialidade, dizem especialistas".
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