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Globo “desidrata” e tira a força de Ligações Perigosas para exibi-la cedo

Mauricio Stycer

05/01/2016 05h01

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A Globo tomou uma decisão curiosa – e incompreensível, para mim – ao programar a minissérie "Ligações Perigosas" para o horário das 22h30, logo depois de "A Regra do Jogo".

Baseada no romance de Choderlos de Laclos (1741-1803), a série gira basicamente em torno da disputa entre Isabel de Alencar (Patrícia Pillar) e Augusto de Valmont (Selton Mello), ambos mestres na arte da sedução. Eles são logo apresentados ao público como figuras amorais, cujo maior prazer é conquistar e dominar seus pares.

Não vou dar spoilers, pode ficar tranqüilo. Mas acho que dá para imaginar, mesmo sem nunca ter lido o livro ou assistido a alguma versão no cinema, que "Ligações Perigosas" transborda sensualidade.

Ao escolher a faixa das 22h30, a Globo optou por desidratar as partes mais "quentes" da história. Ao menos nos dois primeiros episódios, que a emissora exibiu para alguns jornalistas, isso é claro. Vi cenas em que os personagens fazem sexo de roupa. Uma cena quente entre duas mulheres é cortada antes que elas se beijem.

"Investimos em uma sensualidade implícita", explicou o diretor-geral Vinícius Coimbra, sugerindo que mais importante do que mostrar é sugerir. Tudo bem. Mas isso resulta bem insólito em uma história cuja matéria-prima é justamente a sedução.

É ainda mais estranho ao lembrarmos que, em 2015, nesta mesma época do ano, a Globo optou por levar ao ar "Felizes Para Sempre?" mais tarde, depois do "BBB". O horário permitiu a exibição de cenas fortes, protagonizadas pela personagem de Paolla Oliveira. Já em 2014, a emissora apresentou os primeiros cinco episódios de "Amores Roubados" logo depois da novela e outros cinco depois do "BBB".

Pedi à Globo para conversar com alguém, no esforço de entender a lógica destes lançamentos. Como de hábito, quando se refere à área de programação, não obtive sucesso. Por escrito, a emissora informou apenas: "Não há uma regra. Nos últimos três anos, por exemplo, tivemos vários modelos de estreia em janeiro".

A Globo sempre reclama das limitações impostas pela classificação indicativa. Mas não esclarece por que, tendo a possibilidade de exibir conteúdo mais "forte" e contundente no final da noite optou por torná-lo mais "leve" e sem força para exibição mais cedo.

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Para inglês ver (texto meu na Folha)

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.