Globo “desidrata” e tira a força de Ligações Perigosas para exibi-la cedo
A Globo tomou uma decisão curiosa – e incompreensível, para mim – ao programar a minissérie "Ligações Perigosas" para o horário das 22h30, logo depois de "A Regra do Jogo".
Baseada no romance de Choderlos de Laclos (1741-1803), a série gira basicamente em torno da disputa entre Isabel de Alencar (Patrícia Pillar) e Augusto de Valmont (Selton Mello), ambos mestres na arte da sedução. Eles são logo apresentados ao público como figuras amorais, cujo maior prazer é conquistar e dominar seus pares.
Não vou dar spoilers, pode ficar tranqüilo. Mas acho que dá para imaginar, mesmo sem nunca ter lido o livro ou assistido a alguma versão no cinema, que "Ligações Perigosas" transborda sensualidade.
Ao escolher a faixa das 22h30, a Globo optou por desidratar as partes mais "quentes" da história. Ao menos nos dois primeiros episódios, que a emissora exibiu para alguns jornalistas, isso é claro. Vi cenas em que os personagens fazem sexo de roupa. Uma cena quente entre duas mulheres é cortada antes que elas se beijem.
"Investimos em uma sensualidade implícita", explicou o diretor-geral Vinícius Coimbra, sugerindo que mais importante do que mostrar é sugerir. Tudo bem. Mas isso resulta bem insólito em uma história cuja matéria-prima é justamente a sedução.
É ainda mais estranho ao lembrarmos que, em 2015, nesta mesma época do ano, a Globo optou por levar ao ar "Felizes Para Sempre?" mais tarde, depois do "BBB". O horário permitiu a exibição de cenas fortes, protagonizadas pela personagem de Paolla Oliveira. Já em 2014, a emissora apresentou os primeiros cinco episódios de "Amores Roubados" logo depois da novela e outros cinco depois do "BBB".
Pedi à Globo para conversar com alguém, no esforço de entender a lógica destes lançamentos. Como de hábito, quando se refere à área de programação, não obtive sucesso. Por escrito, a emissora informou apenas: "Não há uma regra. Nos últimos três anos, por exemplo, tivemos vários modelos de estreia em janeiro".
A Globo sempre reclama das limitações impostas pela classificação indicativa. Mas não esclarece por que, tendo a possibilidade de exibir conteúdo mais "forte" e contundente no final da noite optou por torná-lo mais "leve" e sem força para exibição mais cedo.
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Para inglês ver (texto meu na Folha)
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