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Nova geração revive a "Escolinha" para lembrar que o humor tem história

Mauricio Stycer

24/11/2015 05h01

Nascida no rádio, em 1952, a "Escolinha do Professor Raimundo" chegou à televisão cinco anos depois, na TV Rio, alcançando a Globo em 1973, dentro do "Chico City". O seu formato atual, com cerca de 20 "alunos" em classe, começou a ser esboçado no "Chico Anysio Show", em 1982, até virar um programa autônomo, em 1990. Entre idas e vindas na grade, o humorístico foi exibido até 2001.

Meio esquecida, a "Escolinha" mostrou o seu valor ao levantar a audiência do "Video Show" no final de 2014, início de 2015. Passando por uma crise na ocasião, o programa vespertino investiu em compactos de 12 minutos do velho show de humor – e o Ibope disse que o público estava gostando.

Humor baseado em bordões, tipos estereotipados, piadas de duplo sentido, claque gravada aplaudindo ao fundo, humor infantil e politicamente incorreto… Rever a "Escolinha" no "Vídeo Show" ajudou a lembrar que o programa é uma antiguidade, sim. Mas de muito valor. É uma peça de museu, sim, mas daquelas que todo mundo faz fila para ver.

Qual é o sentido, então, da estreia nesta segunda-feira (23), no canal Viva, de uma nova versão da "Escolinha", com Bruno Mazzeo no papel de seu pai e um elenco inteiramente renovado?

O ponto de partida deste especial de sete episódios, que a Globo vai exibir em dezembro, é a ideia de que há algo de perene naquele tipo de humor e performance artística (o sucesso de " A Praça É Nossa", até hoje, é outra prova disso).

Mas acho que o projeto vai além. É uma reverência à geração de Chico Anysio – tanto aos atores quanto aos redatores dos programas que fizeram algumas gerações de ouvintes e espectadores se divertirem. É uma maneira de dizer que o humor tem uma história, construída degrau a degrau. Que a piada de hoje só é possível porque a piada de ontem, velha, fez graça no seu tempo.

Foi tão engraçado quanto comovente ver o esforço dos atores da nova geração em homenagear os veteranos da "Escolinha do Professor Raimundo". Gostei de todos. Cito alguns: Bruno Mazzeo (Professor Raimundo), Marcius Melhem (Seu Boneco), Marcelo Adnet (Rolando Lero), Lucio Mauro Filho (Aldemar Vigário), Mateus Solano (Zé Bonitinho), Dani Calabresa (Catifunda), Marco Ricca (Pedro Pedreira), Marcos Caruso (Seu Peru), Fabiana Karla (Dona Cacilda), Otavio Muller (Baltazar da Rocha).

Ver esta nova "Escolinha" talvez não faça nenhum sentido para os adolescentes de hoje, mas é muito reconfortante para quem já riu com a velha "Escolinha".

Em tempo: Agradecendo a amigos e fãs que elogiaram a atração, Bruno Mazzeo escreveu em seu perfil no Facebook uma frase que define muito bem o que foi o programa: "Essa homenagem à Escolinha não é um programa de humor, mas um programa de amor".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.