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Para o bem e para o mal, Tiago Leifert mudou a cara do Esporte da Globo

Mauricio Stycer

01/07/2015 01h01

No comando da edição paulista do Globo Esporte entre janeiro de 2009 e junho de 2015, Tiago Leifert não está apenas deixando o programa, mas mudando de área e assumindo, de vez, uma posição de destaque no entretenimento da emissora.

Ao longo destes seis anos e meio à frente do GE-SP, o editor-chefe e apresentador acabou se tornando o símbolo maior de um processo do qual foi apenas a parte mais visível. Em busca de espectadores mais jovens, bem como do público feminino, o jornalismo esportivo da Globo passou por uma transformação grande tanto na forma quanto no conteúdo.

De pé, andando pelo estúdio, falando uma linguagem coloquial e fazendo piadas, Leifert mostrou ter um talento genuíno para a tarefa. O seu figurino, sempre informal, é o símbolo maior do que a emissora buscava nesta nova fase. Acho que o jornalista foi muito bem-sucedido na proposta de dar uma cara mais leve e agradável ao GE.

Por outro lado, ao investir não apenas na forma, mas também em um conteúdo mais leve, o jornalismo esportivo cometeu muitos erros. E Leifert, pelo papel que assumiu, acabou se tornando porta-voz e alvo de merecidas críticas.

Em diferentes momentos, nestes últimos anos, o jornalista defendeu uma mesma ideia: "Eu não levo nem nunca vou levar esporte a sério. Quem leva (tipo alguns babacas na minha TL) não entende o que é esporte."

Esse ponto de vista arrogante foi exposto, por exemplo, diante da reação do atacante argentino Hernán Barcos, que chamou um repórter da Globo de "boludo" (babaca) diante de outros repórteres após ser confrontado com fotos de Zé Ramalho e bombardeado com perguntas sobre suas semelhanças com o cantor.

Ou quando o GE fez piada com o chileno Valdívia, por conta de suas repetidas contusões, e o jogador atacou violentamente o apresentador do programa.

Mais grave, ainda, na minha opinião, foi Leifert ter vestido a camisa da Globo em algumas discussões sem entender exatamente onde estava se metendo. O jornalismo esportivo da emissora frequentemente foi menos crítico do que deveria por conta de conflitos de interesses.

A cobertura que a Globo fez nas últimas décadas sobre a CBF é repleta de lacunas. O tratamento que dá à seleção brasileira, igualmente, está longe de ter o tom que a equipe muitas vezes mereceu.

Como já escrevi antes, acho que é possível fazer bom jornalismo com bom humor. Lamento, porém, que a emissora tenha dado, até a entrada em cena do FBI, menos atenção do que poderia aos diferentes bastidores relacionados aos negócios do futebol, a Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Fifa, entre outros.

Se Tiago Leifert tivesse sido a cara da Globo em um processo de investigação sobre as estruturas podres do futebol brasileiro, não teria me importado que fizesse isso com humor. O problema ocorre quando a informação é deixada de lado, e prevalece apenas o entretenimento, por força de algum motivo externo que desconhecemos.

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Este texto foi publicado originalmente no UOL Esporte.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.