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Evitar aula de religião e ‘barriga’ são os desafios de “Os Dez Mandamentos”

Mauricio Stycer

29/03/2015 05h01

dezmandamentosrecord

Chegando ao final a primeira fase de "Os Dez Mandamentos", a novela da Record já deu indicações de quais são os seus trunfos e os riscos que corre nesta ousada empreitada.

O investimento pesado, de R$ 700 mil por capítulo, segundo a emissora, se faz notar na qualidade técnica, nas belas paisagens onde parte da novela foi gravada (o deserto de Atacama), nos cenários caprichados e nos figurinos.

dezmandamentosmoisesemaeA história de Moisés, o garoto hebreu criado como neto do faraó egípcio, que posteriormente comandará a libertação do seu povo, já rendeu inúmeros filmes e séries. Como manter, ao longo de 150 capítulos, o interesse do espectador por uma trama que a maioria das pessoas conhece bem?

A decisão de fazer uma novela é bastante ousada, neste sentido. O impacto visual, creio, não é suficiente para prender a atenção do público. Como a história bíblica, em si, não sustenta um folhetim tão longo, a autora, Vivian de Oliveira, vai criar subtramas, dando asas à imaginação, de forma a esticar a história.

Em tese, não vejo problemas neste expediente. A Bíblia permite as mais variadas leituras e interpretações. Sempre se corre o risco, porém, de tropeçar ao tentar manter espectador preso à poltrona a qualquer preço.

dezmandamentosyunetNesta primeira fase, por exemplo, a vilã Yunet (Day Mesquita) ganhou espaço desproporcional na trama, quase como se fosse protagonista, e virou uma caricatura. Por sua causa, em um único capítulo a princesa Henutmire (Mel Lisboa) abortou três vezes.

Outro risco, como ocorre na maioria das novelas, é deixar uma "barriga" crescer, ou seja, "Os Dez Mandamentos" cair na enrolação. Vai ser preciso muita imaginação para manter o ritmo com tantos capítulos pela frente.

Por outro lado, a autora optou por manter os complicados nomes de vários personagens, quando poderia ter arriscado fazer algumas adaptações. De difícil pronúncia, atrapalham a assimilação pelo público.

Mais um problema visível nestes primeiros capítulos é a tentação de usar a história bíblica como pretexto para aulas de religião. Mãe de Moisés, Joquebede (Samara Felippo) ganhou cenas em que só faltou lousa e giz para deixar mais claras as lições aos filhos e, sobretudo, aos espectadores.

dezmandamentosfaraoCom exceção de Zécarlos Machado, como o faraó Seti I, e de Samara Felippo, o elenco da primeira fase não chamou especial atenção. A Record se ressente de um quadro mais variado de atores – os principais escalados para a segunda etapa da história são os mesmos que fizeram as últimas novelas ou séries da emissora.

Como já escrevi, a decisão de exibir "Os Dez Mandamentos" às 20h30 me parece um acerto. Oferece ao público uma alternativa real de programação no horário. Por outro lado, limita algumas opções da autora e do diretor, Alexandre Avancini, já que se trata de uma história repleta de episódios de muita violência e crueldade.

Pelo que vi até o momento, apesar dos riscos, a novela bíblica tem tudo para se firmar como uma opção de entretenimento bem-sucedida da emissora, em 2015.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.