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“Chega Mais” promete “mudar a cara” do domingo, mas não escapa da “mesmice”

Mauricio Stycer

01/03/2015 20h11

chegamaistrioapresentadoresDiante da limitada programação da RedeTV!, é preciso elogiar a iniciativa da emissora de estrear um programa de auditório dominical, com apresentadores pouco conhecidos, num horário de dura competição, das 18h30 às 20h.

"Chega Mais" é apresentado por um trio, formado pelo stylist Matheus Mazzafera, a modelo Renata Kuerten e o fotógrafo de moda Adriano Dória. Um grupo de lindas modelos anônimas completa o time no palco.

O perfil profissional desta equipe se explica pelo fato de "Chega Mais" ser produzido por Eli Hadid, dono da Mega Model, uma das principais agências de modelos do país.

Na estreia, Dória prometeu que "Chega Mais" é um programa "para o seu domingão mudar de cara". Mazzafera acrescentou: "Esperança de um domingo melhor, mais hypado, mais legal. Para sair da mesmice do domingo". "Às 18h30, bem no meio do seu tédio dominical", disse ainda Dória.

Diante dos modelos no palco, o stylist se empolgou: "Dá uma olhada nesse nosso elenco: só gente bonita, Renata". E depois de a câmera dar um close no sorriso das modelos, observou: "Olho o dente delas".

Bom, a promessa de um domingo com nova cara, melhor e mais legal não durou cinco minutos. O programa caiu na mesmice e no tédio de outros dominicais logo em seu primeiro quadro, o "Cinderelo", no qual vão mostrar como um jovem recolhido em um abrigo em Pelotas (RS) vai mudar de vida, ao se transferir para São Paulo e virar modelo.

Do assistencialismo o "Chega Mais" partiu para uma competição entre modelos, que exigirá "adrenalina e inteligência", com provas esportivas, chamada "O Desafio", outro quadro manjadíssimo nas tardes e noites da televisão brasileira.

Uma ideia menos óbvia, uma competição chamada "Liga das Blogueiras", disputada por seis blogueiras das áreas de moda e beleza, foi apresentada, na verdade, mais como uma ação comercial do que propriamente um jogo.

chegamaisanittaA primeira celebridade a participar do "Chega Mais" também não poderia ser uma escolha mais óbvia: Anitta, que já esteve em praticamente todos os programas de auditório da televisão brasileira. Ela participou do quadro "Na Mira das Divas", respondendo a perguntas das modelos que se espalham pelo palco. Perguntas difíceis como: "O seu nome verdadeiro é Larissa, seu nome artístico é Anitta. Quando você é uma e quando você é a outra?" Ou: "Você se considera mais meiga ou abusada?"

Chamou a atenção na estreia o descompasso entre o texto ruim e empostado lido pelos apresentadores e o esforço dos três em parecerem descontraídos e modernos.

Com muitas menções a redes sociais e a um aplicativo do programa, o apelo à modernidade não combinou muito com a pauta requentada da atração. Com dois anos de atraso, por exemplo, o programa explorou o drama de mães que perderam os filhos no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS).

Eclético como todos os seus concorrentes, "Chega Mais" exibiu a reportagem sobre Santa Maria imediatamente depois de um quadro chamado "Dog Star", no qual acompanhamos a transformação de um cachorro.

"Ter estilo é que nem ter chulé: ou você tem ou não tem", disse Mazzafera, explicando por que mudou de figurino no meio do programa. Não achei uma explicação muito boa…

O programa estreou com o apoio de cinco marcas — um feito nada desprezível. Como disse no início, também é digno de elogio a iniciativa da RedeTV! de lançar uma atração dominical. Mas a promessa de apresentar algo novo e diferente não resistiu a poucos minutos. "Chega Mais", infelizmente, acrescentou pouca coisa à cansativa grade de domingo da TV aberta.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.