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Sem imaginação, “Amor & Sexo” repete até a ousada cena de nudez no palco

Mauricio Stycer

14/11/2014 01h10

Ao estrear na Globo a sua sétima temporada, em outubro de 2013, "Amor & Sexo" promoveu um gesto ousado, com a intenção deliberada de chocar: colocou um grupo de dançarinos totalmente nus no palco. A enorme repercussão da cena acabou dando novo impulso ao programa.

A promessa de que aquela seria a última temporada acabou não se confirmando. O ano de 2014 viu a estreia de uma nova safra da série comandada por Fernanda Lima.

A fórmula segue a mesma nesta oitava temporada: temas picantes, comentados com total descontração pelos participantes. Otaviano Costa, que ignora o sentido da palavra "vergonha", protagoniza semanalmente os momentos mais sem noção da TV. É ajudado pelos comentários sempre divertidos de Xico Sá, José Loreto e Mariana Santos, além dos convidados especiais.

Nem sempre as brincadeiras agradam. Há duas semanas, por exemplo, o programa provocou incômodo ao tratar com graça e leveza de um tema delicado, as cantadas que mulheres sofrem nas ruas. Pedreiros bonitões foram convocados a explicar como e por que praticam o que, para muita gente, é entendido como uma forma de assédio.

amoresexo2013No programa desta quinta-feira (13), seis modelos entraram nus no palco, protegidos apenas por folhas de bananeira. Protagonizaram uma brincadeira a respeito do tamanho do pênis. Ao deixarem o auditório, de costas (imagem no alto), repetiram uma imagem do programa de 2013 (ao lado).

No ano passado, a cena de nudez havia sido classificada pelo diretor Ricardo Waddington como um "ato político", uma tentativa de discutir e flexibilizar os limites entre o que pode e não ser exibido na televisão. Ao repetir o expediente, um ano depois, "Amor & Sexo" parece estar querendo dizer que é normal homens ou mulheres desfilarem pelados no palco. Não é.

A repetição passou a impressão, na verdade, de falta de imaginação – a pior coisa que pode acontecer a um programa que se pretende ousado.  Como reconheceu o próprio Waddington antes da estréia, "essa temporada está sendo muito difícil porque é complicado não se repetir, surpreender, trazer novos temas de uma maneira diferente".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.