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Cora, a vilã que solta pum, encara o assaltante hipnotizador em “Império”

Mauricio Stycer

29/10/2014 12h50

imperiocorajeiro
É interessante observar como Aguinaldo Silva tem recorrido com frequência ao humor para atenuar o mau caráter dos vilões de "Império".

O caso mais nítido é o do blogueiro Téo Pereira (Paulo Betti). Os exageros, tanto do texto quanto na interpretação do ator, produzem uma espécie de alívio cômico, mas o recurso não têm a intenção de justificar o comportamento do personagem. Pelo contrário. Como já escrevi, creio que, por meio do humor, o autor deseja torná-lo ainda pior aos olhos do público.

O mesmo ocorre com a vilã Cora (Drica Moraes). No esforço de apresentá-la como falsa moralista, Aguinaldo Silva está transformando a personagem numa comédia ambulante.

Cora dominou o capítulo desta terça-feira (28) de "Império". Ela acorda no meio da noite, com "calores", e decide dar uma volta na rua, para "chamar o sono". Descendo as escadas da casa, observa: "Ai, que horror! To cheia de gases". Ela, então, coloca a mão na barriga e, em seguida, ouve-se o conhecido som. "Ai, deve ser o champagne", explica.

É noite e, meio bêbada, a vilã sai para o seu passeio noturno. Sentada em um banco, em Santa Tereza, ela conversa com um gato de rua que está miando. "Louco por uma gata no cio, né? Também… com essa lua, nessa cidade… Cidade da perdição". Fazendo carinho no gato, continua. "Todo mundo nas suas casas, todo mundo no vuco-vuco… Tudo que você queria, né, gato safado?"

A vilã prossegue, segurando o seu terço: "Mas eu não. Eu to aqui, ilibada, imaculada, zelando pela minha pureza, sozinha… Mas antes só do que mal acompanhada".

É quando aparece Jairo (Julio Machado), filho de Jurema (Elisângela), que ganha a vida assaltando mulheres na rua. Ele agarra a bolsa de Cora e os dois ficam se encarando. Ela diz: "Vamos ver quem pisca primeiro." Jairo fecha os olhos por um instante.

"Hipnotizadorzinho de araque", diz Cora. "Me obedece, tô mandando", responde o assaltante. "Não acredito em truque de circo. Larga", responde ela, recuperando a bolsa. "Ta pra nascer o safado que vai roubar a bolsa de Cora dos Anjos."

Na sequência, sozinha, Cora suspira por Jairo: "Uma coisa não posso negar. O sujeito é ladrão, mas tem um olhar de fogo. Será que é só o olhar?" E Jairo, encantado, segue a vilã, até descobrir onde ela mora. No capítulo desta quarta-feira, ele vai propor um encontro a vilã.

Acho interessante ver como Cora está cada vez mais ridícula. Mas a estratégia do autor é arriscada. Vilões, como se sabe, são essenciais no folhetim. Mostrar Cora soltando pum e hipnotizando assaltantes é divertido, mas pode transformar a vilã num mico de circo.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.