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Drama pessoal de cantor turbina promoção de novo disco na TV

Mauricio Stycer

27/10/2014 05h01

HudsonFantastico
No dia 22 de setembro, sete meses depois de ser internado para tratar de dependência em drogas e álcool, o cantor Hudson deixou um centro de reabilitação, em São Paulo. Uma semana depois, no domingo, 28, deu uma entrevista ao "Fantástico", no qual descreveu sua passagem pelo inferno e a volta:

"Eu via o diabo todo dia dentro de uma garrafa. Todo dia, eu trocava um almoço, meu café da manhã, por uma talagada de uísque. Aí, entrei nessa de cocaína. Acho que eu fui o primeiro artista no mundo sertanejo que botou a cara a tapa", disse ao programa da Globo.

Só no final da entrevista a repórter Giuliana Girardi mencionou que a saída do cantor da clínica coincidia com o lançamento do novo disco da carreira da dupla Edson & Hudson. Como já era sabido, o álbum "De Edson Para Hudson" foi gravado em duas etapas, uma em um estúdio, por Edson, e outra na clínica onde Hudson ficou internado.

EdsonHudosnHojeemDiaA reportagem se encerrou com a dupla cantando uma música nova do CD e o convite a ouvi-la, na íntegra, no site do programa. De lá para cá, Edson e Hudson tem feito bastante divulgação do trabalho, sempre sublinhando o drama pessoal do cantor.

Foi assim, por exemplo, na entrevista a Chris Flores, do "Hoje em Dia", da Record: "Todo sofrimento dele lá dentro eu passei aqui fora", revelou Edson, na conversa, exibida no último dia 22.

EdsonHudosnCaldeiraoE foi assim, também, no "Caldeirão do Huck", neste sábado (25). "A gente vai abrir o 'Caldeirão' contando uma história que tem a música como ferramenta de superação", explicou o apresentador. Curiosamente, Luciano Huck reapresentou boa parte da reportagem do "Fantástico" antes de convidar a dupla a cantar no palco do seu programa.

Programas populares de televisão adoram "histórias de superação", em especial as que fazem o espectador chorar. O caso de Hudson é um prato cheio, neste sentido. Além de ser um caso de "superação", é também a história de um "famoso", o que confere ainda mais emoção ao caso.

As emissoras faturam em audiência e a dupla consegue boa promoção para o seu trabalho. O problema é que o espectador nunca sabe se o objetivo de tanta exposição é ensinar algo sobre o drama de um ex-dependente ou vender discos.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.