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“Friends” envelheceu, mas ainda dá aula de como fazer comédia na televisão

Mauricio Stycer

22/09/2014 11h09


Ao festejar 20 anos de sua estreia, "Friends" não é mais uma unanimidade. A série ainda conta com um ruidoso fã-clube, mas para muita gente ela envelheceu, perdeu a graça e não faz muito sentido em 2014.

Dependendo da idade ou do humor do espectador, os problemas que os seis amigos entrando na idade adulta em Nova York enfrentavam na década de 90 hoje podem soar bobos, infantis.

Não é esta a questão mais importante, porém. Ao menos no Brasil, onde a produção de séries ainda engatinha, os 20 anos de "Friends" servem para um outro propósito.

O programa criado por Marta Kauffman e David Crane não inventou a roda, mas merece ser revisto com atenção por quem escreve ou planeja escrever comédia para a televisão.

Você pode dizer que nunca houve tamanha química entre seis atores. Tudo bem. Mas isso não seria suficiente para manter o programa no ar por dez temporadas. A premissa central – transformar seis amigos em uma "família" – também é muito boa, mas não teria garantido, por si só, o sucesso da série.

O principal trunfo de "Friends" sempre foi a qualidade do texto. Sem apelação, com uma malícia quase infantil, além do impressionante número de piadas por episódio e do ritmo perfeito, conseguia tratar de assuntos que diziam respeito – ou eram compreensíveis – a um universo muito grande de espectadores.

"Friends" levantou vários temas ousados, em matéria de comportamento, mas sem fazer campanha por eles. Foi conservadora em alguns aspectos, mas igualmente sem dar a impressão que estava defendendo posições.

Com a ajuda de quase uma dezena de roteiristas, Marta Kauffman e David Crane deixaram estas dez temporadas de "Friends" como uma espécie de curso prático de roteiro de comédia para televisão.


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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.