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“Império” provoca espectador ao mostrar com humor pais que exploram filhos

Mauricio Stycer

22/08/2014 12h48

imperiofamiliabastidorPerto de chegar ao capítulo 30, o que mais tem me chamado a atenção em "Império" é a família de Maria Isis (Marina Ruy Barbosa), a jovem amante do comendador Jose Alfredo (Alexandre Nero).

Os quatro integrantes da família são totalmente amorais. Severo (Tato Gabus Mendes) e Magnólia (Zezé Polessa) são dois picaretas que não fazem nada além de explorar os próprios filhos, Maria Isis e Robertão (Rômulo Neto).

O rapaz, inicialmente, também não tinha ocupação, mas agora está ganhando dinheiro como michê. A menina não faz nada além de estar à disposição do amante, que mantém o seu apartamento e custeia as suas despesas.

Aguinaldo Silva tem apresentado a família sob a ótica do deboche. "Como tem corrupto nesse país. E a gente aqui… Dois idiotas tentando levar a vida honestamente", diz Severo a Magnólia, folheando o jornal que roubou da porta do vizinho.

imperioisisdinheiropaisA mulher é mais gananciosa que o marido. Sem rodeios, está sempre pedindo dinheiro para os filhos. Maria Isis entende exatamente qual é o seu papel, às vezes reclama, mas quase sempre contribui com os pais.

Já Robertão faz piada. Esta semana, chegando em casa com várias sacolas de compras, ele ouve a mãe dizer: "Tô vendo que choveu na sua horta". E responde: "Tira os olhos. É tudo fruto do meu trabalho."

Vendo que Robertão se perfumou para sair, Severo e Magnólia temem que ele esteja apaixonado. O pai adverte: "Lembra o que o seu avô dizia: o amor é uma flor roxa que nasce no coração do trouxa". O garoto responde: "Amor? Amor? Você acha que eu vou cair numa dessa? Arranjei coisa muito melhor (fazendo gesto com os dedos que simbolizam dinheiro). Uma pessoa que não toca nem em mim".

imperiorobertao2Quando o filho ainda não estava trabalhando, Aguinaldo Silva escreveu uma cena para mostrar que o pai do rapaz, na juventude, também ganhou a vida se prostituindo. Lendo os classificados do jornal em voz alta, Severo diz: "Scort boy. No meu tempo chamava de michê mesmo". Ao que Magnólia observa: "Você se virava, né, Severo?" E ele: "É… fazia sucesso".

Ao apresentar esta família em tom de humor, sem condená-los explicitamente, o autor provoca, evidentemente, um incômodo. Confesso que vejo isso como uma qualidade de "Império".

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.