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Livro sobre Mussum relembra golpes baixos de emissoras de TV

Mauricio Stycer

16/08/2014 12h23


Lançado no início de julho, o livro "Mussum Forévis" (Leya, 416 págs., R$ 50) resgata em detalhes, de forma cronológica, a trajetória do músico e comediante Antonio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum.

mussumforevisAutor do trabalho, o jornalista Juliano Barreto procura costurar três histórias paralelas no livro: 1) a agitada vida privada, incluindo a tendência ao alcoolismo, de um homem de origem muito humilde, nascido em uma favela carioca; 2) a bem-sucedida carreira musical, à frente do grupo Os Originais do Samba; 3) a fantástica trajetória dos Trapalhões, um dos grupos de humor que ajudaram a escrever a história da TV no Brasil.

Um bom resumo do trabalho pode ser lido nesta entrevista de Barreto a Leonardo Rodrigues, do UOL: Malandro e de formação militar, Mussum era duas pessoas, diz biógrafo.

Para quem se interessa pela história da televisão, "Mussum Forévis" resgata alguns bons "causos", que enumero a seguir:

Como Mussum virou comediante: Em 1972, Renato Aragão e Dedé Santana estrearam na Record "Os Insociáveis". O programa, inicialmente com 10 minutos, fez sucesso e logo cresceu, surgindo a necessidade de aumentar o elenco. Barreto diz que, inspirado no sucesso dos comediantes americanos Bill Cosby e Richard Pryor, Didi e Dedé decidiram que o novo integrante do grupo deveria ser negro. O primeiro nome pensado, Tião Macalé, foi descartado porque teria dificuldades em decorar textos e seria indisciplinado. Mussum, já conhecido pelos Originais do Samba, foi a segunda opção.

Sucesso na Tupi com golpe baixo da Record: Em 1974, a Tupi contratou o trio, com uma boa oferta financeira e a oportunidade de Renato Aragão voltar a usar o nome que adotou no início da carreira: Trapalhões. Mauro Gonçalves, o Zacarias, foi incorporado ao time. O sucesso do grupo na Tupi motivou a Record a exibir, no mesmo horário dos Trapalhões, antigos episódios de "Os Insociáveis". O golpe baixo levou Aragão a escrever uma carta-aberta, alertando: "O que vou dizer deve servir de alerta aos meus companheiros para que nunca assinem contrato com cláusula em que a emissora se reserva o direito de, em qualquer época, exibir os tapes gravados".

Estreia na Globo com golpe baixo da Tupi: No final de 1976, depois de várias tentativas, a Globo finalmente conseguiu contratar Os Trapalhões. A estreia foi em um programa especial, exibido às 21h de sexta-feira, em 7 de janeiro de 1977. Exatamente na mesma noite e horário em que foi ao ar "Os Trapalhões – Especial", a Tupi exibiu uma reprise de "Robin Hood, o Trapalhão da Floresta", diminuindo o impacto e roubando parte da audiência da estreia da concorrente.

Ciúmes e dinheiro explicam a separação: Um dos episódios mais controversos da história dos Trapalhões é a briga entre Renato Aragão, de um lado, e Dedé, Mussum e Zacarias, do outro, ocorrida em 1983. A separação sempre foi creditada a uma divergência em relação à divisão dos lucros com os filmes dos Trapalhões. Barreto confirma esta hipótese, mas enfatiza igualmente uma segunda causa: o trio se sentia em segundo plano em relação a Didi. A gota d´água teria sido uma reportagem de capa da revista "Veja", publicada em julho daquele ano, na qual Aragão é comparado a Roberto Carlos e Janete Clair e os três companheiros ganham apenas uma breve menção no texto. Menos de um ano depois da separação, o grupo voltou a ficar junto.

Convites do SBT: Barreto relata três tentativas de Silvio Santos de levar o grupo – ou parte dele – para o SBT. A primeira ocorreu justamente durante separação, em 1983. A segunda foi em 1988, quando a Globo quase contratou Gugu Liberato. E a terceira deu-se em 1991, quando Dedé e Mussum estavam tendo dificuldades na renovação de seus contratos com a Globo. Em todas as três ocasiões, as conversas não prosperaram.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.