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Querendo falar de tudo, programa de Justus acaba tratando de quase nada

Mauricio Stycer

22/07/2014 11h01

justusszafirkleberDos muitos talk shows hoje em exibição na TV aberta, o "Roberto Justus +", na Record, se diferencia por ser o único que é temático. Uma vez por semana, o publicitário recebe diferentes convidados para debater um mesmo assunto.

É um formato, como já escrevi, que engessa o programa e acaba limitando o alcance das entrevistas. Às vezes o tema do programa é até bom, mas o espectador fica com a sensação de que os convidados poderiam render entrevistas mais interessantes se a pauta fosse livre.

Pior é quando o assunto escolhido parece ruim, forçado ou impossível de ser tratado em 30 minutos. Esta semana, por exemplo, o programa foi sobre "polêmica", ou seja, sobre praticamente tudo que passa na televisão.

Justus recebeu João Kleber e Beth Szafir para falar sobre aspectos "polêmicos" de suas trajetórias – o "Teste de Fidelidade", no caso do primeiro, e a participação da segunda no "Aprendiz Celebridades".

O apresentador até fez boas perguntas e comentários sobre o programa de João Kleber: "Esse 'Teste de Fidelidade' engana quem?", quis saber. "A pessoa para ser enganada em rede nacional recebe cachê?", prosseguiu. "O homem traído não passa o mão onde precisa passar", observou. "As pessoas não se batem de um jeito muito convicente", acrescentou.

João Kleber, como sempre, assegurou que não engana ninguém. No máximo, admitiu, pode vir a ser enganado por participantes. "Não vou mentir pra você que tem situação que precebi que havia combinação entre os casais", disse.

A conversa tinha tudo para render muito, mas Justus logo quis falar dos palavrões que Beth Szafir proferiu durante o "Aprendiz". Em seguida, um repórter mostrou pessoas que não respeitam leis, como jogar lixo na rua e parar o carro em cima da faixa de pedestres.

Por fim, o programa perdeu um bom tempo falando de "pessoas que optaram por ser polêmicas", como Justin Bieber, Angelina Jolie, Woody Allen, Madonna, Michael Jackson, entre outros.

"O tema 'polêmica' está muito agradável", disse Justus a certa altura sem se dar conta que a frase mostrava como o programa estava sem rumo. Querendo discutir tudo, acabou não falando de quase nada.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.