"O Rebu" é uma boa novela, mas o seu marketing é melhor
Poucas novelas recentes apresentaram uma diferença tão grande entre o que prometem ser e o que são, de fato, quanto "O Rebu". A nova trama das 23h da Globo, lançada há uma semana, veio embalada por tanta fanfarra que chega a ser difícil analisá-la com clareza. É uma boa novela, mas não tão boa quanto o marketing que a cercou.
Como as três produções que a antecederam desde 2011 ("O Astro", "Gabriela" e "Saramandaia"), trata-se de um misto de homenagem e "remake" de uma novela famosa exibida na década de 70, num momento em que a teledramaturgia começava a se firmar como o principal produto da Globo.
Escrita por Bráulio Pedroso (1931-1990), "O Rebu" foi ao ar em 1974. Toda a história se concentrava em torno de um crime ocorrido durante uma festa oferecida por um milionário à elite do Rio.
Ao longo de 112 capítulos, a novela avançava para mostrar a investigação policial e andava para trás para mostrar antecedentes dos personagens. Esta narrativa em três tempos, natural num romance policial, foi considerada de uma ousadia sem par na televisão, na época.
Segundo os registros, a audiência da novela ficou abaixo da expectativa, o que foi creditado justamente ao fato de a história se construir em três tempos e não de forma linear.
Curiosamente, no material de divulgação da nova versão e nas diversas entrevistas dadas a respeito, o diretor-geral (José Luiz Villamarin), os autores (George Moura e Sergio Goldemberg) e os principais atores trataram de enfatizar esta questão como uma espécie de troféu.
"Com certeza, hoje, o telespectador está mais preparado para assistir a 'O Rebu' por estar mais familiarizado com este tipo de narrativa que modifica a lógica do tempo real", disse, por exemplo, Villamarin.
Ora, se esta inovação ocorreu há 40 anos, por que tanta preocupação em explicá-la em 2014? Será que a emissora tem a percepção de que o público, ao longo deste tempo, segue incapaz de compreender uma história não linear?
"O Rebu" de 2014 terá apenas 36 capítulos, um número que, na tradição brasileira, até dificulta classificá-la como novela. Com esta duração, um terço da original, corre-se menos riscos em caso de dificuldades com a audiência.
Outro cartão de visitas da nova novela é a equipe formada em torno de Villamarin, responsável por dois trabalhos recentes de excelente padrão, de fato, as séries "O Canto da Sereia" (2013) e "Amores Roubados" (2014). É como se este selo de qualidade prévio garantisse a qualidade de "O Rebu".
Não foi bem isso que ocorreu, na minha opinião. O efeito de luz obtido na novela, que busca enfatizar o tom de mistério da trama, não impressiona. A câmera na mão, em algumas cenas na mansão, ajuda a dar um ar teatral, exagerado, a diálogos que, em tese, deveriam ser naturais. O mesmo acontece com a interpretação de alguns atores, como Cássia Kis Magro e Sophie Charlotte, que têm merecido closes de forma indiscriminada.
A trama é atraente, mas nada original. Como qualquer romance policial centrado no "quem matou", todos os personagens têm um bom motivo para cometer o crime. Enquanto panorama da elite brasileira, "O Rebu" pouco mostrou até agora.
A condução da trama em três tempos tem sido bem feita, mas não há muito mérito nisso. Aliás, cabe uma crítica pela demora na chegada da polícia à cena do crime – depois de cinco capítulos, ela ainda não ocorreu.
A trilha sonora, resgatando velhos e não tão velhos sucessos, talvez seja o maior trunfo da novela até agora. O excelente desempenho de Patricia Pillar e Tony Ramos não surpreende ninguém. Mariana Lima, Julio Andrade, Daniel de Oliveira, Jean Pierre Noher e Camila Morgado já tiveram excelentes momentos.
"O Rebu" tem se mostrado um ótimo entretenimento, mas está longe de representar uma ousadia, uma novidade ou mesmo um trabalho com a qualidade de "Amores Roubados" e "O Canto da Sereia".
A audiência, até o momento, tem oscilado ao sabor do horário. Os números da Grande São Paulo, a principal referência do mercado, mostram isso. Às segundas-feiras, exibida mais cedo, logo depois da novela das 21h, "O Rebu" obteve 24 pontos na estreia (14/7) e 22 uma semana depois. Nos demais dias, caiu bastante: 16 pontos na terça (15/7), 13 na quinta e 14 na sexta.
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