Topo

“Tudo Pela Audiência” dá aula sobre apelação na TV, mas não faz rir

Mauricio Stycer

16/07/2014 05h01

tudopelaaudienciaCanal que mais investe em humor brasileiro na TV, o Multishow criou enorme expectativa com a sua mais nova atração, anunciada pela primeira vez em março. Uma campanha publicitária forte e muita agitação nas redes sociais completaram o serviço mais recentemente.

Com título provocador, "Tudo Pela Audiência" chamou a atenção pela proposta excelente: parodiar e rir de programas de auditório. Dois grandes nomes, entre os mais talentosos da nova geração, comandam a atração: Fábio Porchat e Tatá Werneck.

"Qual é a receita para se ter um programa de sucesso, um programa que tem audiência?", perguntaram os dois logo no início da estreia, nesta terça-feira (15). A resposta, meio longa, reproduzo abaixo:

"Você pega duas xicaras de Silvio Santos, pequenas rodelas de Faustão, polvilha com Sonia Abrão por cima, oréganos de Groisman, você unta com uma porção de Gugu Liberato, Galisteu ralada e raspada em cima, você deixa no forno cinco minutos, você borrifa uma Fernanda Lima, uma Cicarelli em cima, corta em Mara Maravilhas, você glaceia tudo isso com Fausto Silva e nós temos, então, o 'Tudo Pela Audiência'."

Por quase uma hora, o programa apresentou quadros que mimetizam manjadas atrações apelativas – um cantor bem popular (no caso, Naldo Benny), debate sobre sexo, briga entre vizinhos ("O Barraco do Dia"), distribuição de dinheiro para o público (´"Você quer bufunfa?"), provocação com famosos ("Você tira o pastel?") e a apresentação de histórias de vida comoventes ("Chora Brasil"), entre outras. O foco, também ironizado, é a ascendente classe C.

O problema é que tudo pareceu mais didático do que propriamente engraçado. Porchat e Tatá deram a impressão de estar mais preocupados em dar uma aula sobre como conseguir audiência a qualquer preço do que em fazer o espectador rir deste esforço.

Não deixa de ser honesto o comentário de Porchat logo no início: "Está no ar essa verdadeira tese de doutorado sobre o desespero pelo sucesso". "Tudo Pela Audiência" se revelou um excelente exercício de metalinguagem, mas ficou devendo em matéria de humor.

É preciso dar um desconto porque este foi apenas o primeiro de 22 episódios. E uma segunda temporada já está encomendada.

Veja também
Tatá Werneck e Porchat recebem Naldo em estreia de "Tudo pela Audiência"

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.