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“Narrador pode torcer, não pode ser chato”, diz Datena

Mauricio Stycer

30/06/2014 17h28

datenanetoSem narrar uma partida de futebol havia 12 anos, desde que passou a se dedicar exclusivamente aos programas policiais, José Luis Datena é uma das atrações da Band na Copa de 2014. Nesta terça-feira (01), vai narrar uma partida importante, entre Argentina e Suíça, valendo vaga para as quartas de final.

Datena é daqueles narradores que não esconde em momento algum que está torcendo abertamente por um dos lados da disputa. "Não torço contra o Brasil nem a favor da Argentina", explica.

Imagine como será a narração da partida de amanhã: "É evidente que vai aparecer, em algum momento, que torço contra. No íntimo quero que o placar seja Suíça 8 a 0." O narrdor diz que, se pudesse, faria "uma torcida absolutamente contra a Argentina", mas há um pequeno problema: o diretor da Band, Diego Guebel, é argentino.

O apresentador do "Brasil Urgente" já narrou quatro partidas da Copa na Band, entre as quais Espanha x Chile e Alemanha x Portugal. Também tem narrado jogos na Band Sports, como fez no último sábado, de Brasil x Chile.

"Torci descaradamente para o Brasil", reconhece. "Mas fomos críticos na narração. Falei duas ou três vezes que o Brasil não jogava nada". É uma questão de princípio, explica: "Jamais vou torcer contra o Brasil. Nem quando o Dunga foi técnico torci contra", diz, revelando que não gosta do técnico da seleção brasileira de 2010.

Na sua visão, não há problema alguma em ser parcial numa narração de partida de Copa do Mundo. O problema é outro, diz. "Existe uma grande diferença entre torcer e ser chato. Narrador pode torcer, não pode ser chato. Tem tantos aí… Também tem cara que é chato sem torcer."

Datena acha que as pessoas confudem o apoio à seleção brasileira com apoio político. São coisas diferentes, esclarece: "O Brasil tem problemas sociais graves. Com Copa ou sem Copa, os problemas vão continuar. Na hora do jogo de futebol, vou torcer pro Brasil".

E lembra de seu ídolo, Luciano do Valle (1947-2014). "O Luciano era o maior torcedor. Entrava dentro de quadra em jogo de vôlei. Mandava colocar a bandeira na janela". Aliás, o narrador conta que tem procurado homenagear o mestre nas suas transmissões, usando termos que Luciano usava, como "defesaço", entre outros.

Ouvindo muitos elogios ao trabalho na Copa, Datena observa, bem a seu estilo: "Estou até estranhando tanta gente falando bem de mim".

Este texto foi publicado originalmente no blog UOL Esporte Vê TV.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.