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“CQC” faz pegadinha capenga sobre “justiça com as próprias mãos”

Mauricio Stycer

22/04/2014 13h39

Em uma encenação exibida por 12 minutos nesta segunda-feira (21), o "CQC" quis mostrar que uma pessoa inocente pode ser vítima da fúria de gente desinformada.

Três atores protagonizaram o teatro em uma esquina não identificada (acho que de São Paulo), na qual um suposto assaltante é amarrado a um poste por duas de suas "vítimas". Seguranças escondidos foram obrigados a entrar em ação quando um sujeito que via a cena apareceu com uma barra de ferro na mão destinado a agredir o falso assaltante.

Antes de mostrar esta encenação, o programa exibiu imagens de reportagens reais sobre inocentes que foram vítimas de atos de "justiceiros". "Será que a justiça com as próprias mãos é justa?", perguntou o repórter Mauricio Meirelles.

Todo o trabalho pareceu ter um propósito didático – o de mostrar que a fúria nas ruas pode vitimar gente inocente. "Muitas pessoas são vítimas e não têm nada a ver com isso. Às vezes, o cara é inocente, aí vê a aglomeração… E quando você vê, está cometendo um crime também, está batendo num cara que não tem nada a ver com isso", disse Meirelles a um motociclista que falou em "pegar a arma" para atacar o falso assaltante.

A intenção é até louvável, mas lógica por trás do raciocínio me pareceu capenga. A "pegadinha" do "CQC" poderia ter sido complementada com um discurso mais claro, lembrando que praticar "justiça com as próprias mãos" é uma barbaridade em si – e não somente quando a vítima é inocente.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.