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Globo cria cinco fóruns internos para propor séries, formatos e mudanças

Mauricio Stycer

03/04/2014 14h13

Schroder2

Na direção-geral da Globo desde janeiro de 2013, o jornalista Carlos Henrique Schroder implantou um novo modelo de funcionamento interno na emissora, baseado em "fóruns", com o objetivo de propor novos programas, mudanças na grade e compreender melhor o que o espectador quer ver na televisão.

São cinco os "fóruns" criados – para discutir seriados, novelas, programas de auditório, humor e um para desenvolvimento de novos formatos. Os grupos são formados por oito a dez pessoas, entre autores e diretores da própria Globo.

O fórum sobre formatos, segundo Schroder, já apresentou três ou quatro sugestões. "Estamos nos forçando um pouco a desenvolver formatos brasileiros. A gente vai muito atrás do mercado mundial e fica um pouco refém. Por que a gente, com a capacidade criativa gigantesca, não cria?"

Schroder detalhou o funcionamento destes "fóruns" pela primeira vez na manhã desta quinta-feira (03), em um encontro com jornalistas na sede da emissora, em São Paulo. Abaixo trechos da conversa na qual ele explica a ideia:

Globo2014Novamarca1A nova logomarca
A gente fez um estudo importante, de um ano, para chegar neste modelo, que tem um efeito muito forte. A gente trabalhou muito a modernidade, a leveza, a clareza. Saímos daquele modelo metálico. Ela passa a ter um movimento interno constante. Começa a ser visto domingo (06), a partir do "Fantástico". O efeito é gigantesco: está na canopla das equipes (são 650 em todo Brasil), na marca da TV, nos produtos, nas vinhetas, nos cenários, nos carros de reportagem. É uma infinidade de preocupações que a gente tem esses dias para botar de pé e fazer isso ir ao ar.

Surpreender o público
A gente tem incentivado muito o ambiente criativo, mais ousado, uma busca de aproximação com o público através de experimentações. É uma tentativa, de fato, de abrir a nossa grade de programação, os gêneros, o portifólio, as opções. Temos uma necessidade fundamental hoje de, a todo momento, surpreender o público. Em 2013, oferecemos 12 produtos no horário nobre, na linha de shows, excetuando novelas. Este ano serão 16. Vamos ter uma dinâmica maior na grade. Teremos uma redução das temporadas das séries.

Correndo riscos
Arriscar significa que vamos fazer algumas tentativas buscando essa aproximação com o público trilhando caminhos que você não tem certeza. Até encontrar o processo ideal, a gente vai trafegar por uma zona cinzenta…

Fóruns
Em abril, maio de 2013 começamos a criar fóruns de reflexão de produtos de conteúdo de entretenimento. O que são? O primeiro foi o de seriados. Um grupo de autores e diretores se reúne a cada mês para fazer uma reflexão mais profunda sobre o que a gente produz e aonde a gente quer chegar. Que tipo de produto a gente quer por no ar? O que a gente acha quer o público brasileiro gostaria de ver?

cacadorSéries semanais com "arco"
Vamos ter mais séries semanais, uma coisa que o brasileiro, hoje, não está acostumado. Como foi "A Teia". Faremos esse ano com "O Caçador" (foto) e "Segunda Dama". Vamos aproximar mais o gancho para o espectador ter o interesse em assistir na semana seguinte. A sensação que a gente tem, no fundo, é que o brasileiro está tão acostumado com o modelo de novela diário que não tem essa cultura do seriado semanal. No modelo americano você tem isso como uma realidade. Temos que exercitar mais isso. Arriscar, neste caso, seria apostar mais neste tipo de seriado. É diferente de sitcoms como "A Grande Família" ou "Tapas & Beijos", por exemplo. Você vê um episódio, mas não leva para a semana seguinte o interesse em assistir. Ele sabe que será outro episódio. Com a ideia de "arco", queremos que a série carregue informação para a semana seguinte. Vamos experimentar mais isso.

thevoicetimeGrade flexível
A duração dos programas não é uma imposição da grade. O tempo é definido pelo produto. A grade não é rígida, vai se adequando. Quando a gente fez o "The Voice" à noite, no ano passado, o Boninho disse que não conseguiria fazer com menos de 70 minutos de produção. Tomou dois "slots" (horários) da grade. Tudo bem.

Cinco fóruns
Novela é o único dos cinco fóruns que a gente ainda não abriu. Já temos o de séries, o de variedades (programas de auditório, games etc), um de humor… Queremos discutir profundamente humor na televisão. E tem um fórum também de formatos. Estamos nos forçando um pouco a desenvolver formatos brasileiros. A gente vai muito atrás do mercado mundial e fica um pouco refém. Por que a gente, com a capacidade criativa gigantesca, não cria? Começou agora, tivemos poucas reuniões, mas já surgiram três ou quatro formatos novos. Tem um caminho pela frente. E novela será criado no próximo mês.

meupedacinhodechaoNovelas
Qual é o caminho? É uma discussão totalmente em aberto. Duração? Tamanho de elenco? Tempo do capítulo? Onde a gente já atuou? Foi na novela das 18h. A novela das 18h tem um período complicado que é o horário de verão. É um inferno. Não estamos fazendo estreia dentro do período do horário de verão. Ou estreia antes ou depois. Então a gente encurtou a novela das 18h, sim (caso de "Meu Pedacinho de Chão", que estreia na próxima segunda-feira, com 104 capítulos). E precisamos de mais novelas neste horário ao longo do ano.

Conversa coletiva
O que gente quer? Que tipo de novela? Enfoque? A novela deve ser contemporânea? A novela das 23? Remake? Texto inédito? Acho que está na hora de um texto inédito no horário das 23h. Mas eu quero que a conversa seja coletiva. Os fóruns têm entre oito e dez participantes. Profissionais da casa. Pode até trazer alguém de fora para conversar quando quiser. O grupo de humor, por exemplo, é formado pelo Guel Arraes, Claudio Paiva, Jorge Fernando, Mauricio Farias, Claudio Manoel, Fabio Porchat, Marcius Melhem, Marcelo Adnet, Bruno Mazzeo. Eu participo de alguns. No começo eu vou, para abrir a conversa e provocar a discussão. É uma discussão totalmente aberta, "brainstorm", para abrir a cabeça mesmo.

O caminho das ideias
O fórum consolida a proposta, sugere e aí encaminha para o comitê de programação, formado por mim, Manoel Martins (diretor de entretenimento) e o Amauri Soares (diretor de programação). Nós discutimos e oficializamos na grade.

Mudanças
Essas discussões nos fóruns já levaram a algumas mudanças, como a do horário do "Altas Horas" (agora é mais cedo), a mudança do dia do "The Voice" (a primeira temporada foi aos domingos, à tarde), a inversão do horário da "Sessão da Tarde" com o "Vale a Pena Ver de Novo".

Crédito da foto no alto do texto: Zé Paulo Cardeal/Divulgação

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.