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Divulgar "spoilers" de novelas é “falta de respeito”, diz Silvio de Abreu

Mauricio Stycer

23/02/2014 14h18

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Além de ser um dos principais autores de novela em atividade, Silvio de Abreu talvez seja aquele que reflita com maior clareza sobre o próprio trabalho em entrevistas. Seus encontros com jornalistas costumam render ótimas declarações.

Um dos temas que Abreu sempre aborda é o incômodo que sente com a divulgação de "spoilers" de novelas, em especial, com a publicação de notícias que revelam mistérios ainda não exibidos nas tramas.

Já registrei aqui no blog um comentário do autor sobre este assunto, feito em uma entrevista à "Folha" em 2011, à época de "Passione". Neste domingo, ele voltou a lamentar a dificuldade de guardar segredos em uma entrevista a "O Globo":

"É cada dia mais difícil (…). Hoje, se gravar às 19h, às 19h05 está na internet. Não sei qual é o gosto de fazer isso. E vou dizer, acho que é uma falta de respeito. Quando os jornalistas falam de um filme, respeitam o segredo. Quando é novela, não. É por quê? Por que é popular?"

Abreu toca num ponto que eu também já abordei aqui no blog. Para mim, é um mistério por que os leitores adoram ler sobre o que ainda vai acontecer nas novelas, mas se revoltam se um jornalista faz algo parecido com um filme ou uma série.

Na entrevista publicada neste domingo no jornal carioca, Abreu também trata de outros assuntos muito interessantes. Reproduzo abaixo três trechos. A íntegra pode ser lida aqui.

Sobre novela das 19h
"Hoje, para ter uma novela com muita audiência, tem que agradar a todas as classes. E se não tiver classe C, perde muito. Hoje em dia vejo que novelas que se apoiam num assunto profissional não agradam mais ao público. Todo mundo quer ganhar dinheiro na loteria, ir ao baile funk e curtir a vida. Não era assim nos anos 1980."

Sobre merchandising social nas tramas
"Novela é entretenimento, feita para fazer sucesso. Agora, se dentro disso você colocar temas importantes inseridos na trama e não forçados, ótimo. Hoje há muito autor dizendo: 'Vou falar sobre isso'. Fala e depois some. Não se toca mais no assunto. Porque dá manchete. É mais para sair no Twitter, no jornal, do que para fazer um bom trabalho. Mas não acredito que novela mude a cabeça de alguém. Ela é assistida no meio da casa, com as pessoas falando, telefone tocando, cachorro latindo, bife fritando."

Sobre crítica de televisão
"Hoje em dia os críticos têm o hábito muito ruim de, em primeiro lugar, ver quanto deu de audiência. E audiência não tem nada a ver com qualidade. Se fôssemos fazer só o que o público quer, até hoje estaríamos escrevendo 'O Direito de Nascer'. Graças a Deus, a gente ousa, erra e acerta. Acho que é preciso pensar melhor no que se escreve porque pode não influenciar quem faz, mas fica na cabeça de quem assiste. E, sim, irrita muito quem faz (risos)."

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.