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Até no fim “Sangue Bom” foge do óbvio e não faz concessão ao espectador

Mauricio Stycer

02/11/2013 05h01

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"Sangue Bom" pode não ter representado uma maior inovação no gênero, mas será lembrada não apenas como uma novela muito divertida, mas também corajosa. Não teve medo de desenvolver temas ousados, tratou o espectador como adulto e raramente apelou a golpes baixos para agarrar a audiência.

sanguebomtitoO último capítulo foi exemplar. Maria Adelaide Amaral e Vicent Villari não ofereceram nenhuma solução fácil na conclusão da trama. Haveria desfechos muito mais simples para o caso do sabotador, por exemplo, mas os autores optaram por um surpreendente, mas dentro da lógica, que exigiu atenção redobrada de quem assistia a novela.

O destino da personagem que passou 161 capítulos preocupada exclusivamente com a própria imagem, a atriz decadente Barbara Ellen (Giulia Gam), não poderia ter sido mais genial do que a entrada dela em um reality show, chamado "A Que Ponto Chegamos".

Entre todos os casais que apareceram felizes no último capítulo, apenas três não se beijaram. Eram formados por Filipinho (Josafá Filho) e Xande (Felipe Lima), Peixinho (Julio Oliveira) e Sininho (Tiago Martelli), Tabata (Samya Pascotto) e Vivian (Lu Camy). Coube a Tabata "explicar" a situação, citando Daniela Mercury e um trecho de "Música de Rua", aquela que diz: "Alegria agora, agora e amanhã, alegria agora e depois, e depois e depois de amanhã."

sanguebommaluA decisão de Malu (Fernanda Vasconcellos), dividida entre dois amores, o "sangue bom" Bento (Marco Pigossi) e o "filhinho de papai" Mauricio (Jayme Matarazzo), também fez sentido, ainda que não tenha sido a mais esperada pelo público.

A manifestação contra a construção de um shopping na Casa Verde, na última sequência, é também um achado positivo (imagem no alto do texto). Em clima de festa, pacífico, ao som de "Toda Forma de Amor", de Lulu Santos, o encontro reitera uma imagem simpática, talvez idílica, exposta desde o primeiro capítulo, sobre a vida comunitária em um bairro fora do centro da cidade. Como diz a música: "A gente vive junto, e a gente se dá bem. Não desejamos mal a quase ninguém."

sanguebomfim A cena final, o encontro entre Amora (Sophie Charlotte) e Bento no meio da manifestação festiva, apenas sugeriu o desenlace, sem mostrar o que aconteceu depois. Mais uma solução não óbvia dos autores de "Sangue Bom", talvez visando atenuar a irritação dos que esperavam mais sofrimento para a vilã redimida.

A audiência do último capítulo foi de 26 pontos, em São Paulo – o menor índice de um desfecho de novela das sete da Globo nos últimos quatro anos. Na média de seus 161 capítulos, "Sangue Bom" ficou em torno dos 25 pontos, longe do sucesso de "Cheias de Charme" (média final de 30), mas acima de "Guerra dos Sexos" (23), que a antecedeu.


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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.