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Livro sobre a “gangue de Hollywood” é um bom tratado sobre a fama

Mauricio Stycer

30/07/2013 16h34

Entre outubro de 2008 e agosto de 2009, um grupo de adolescentes de classe média assaltou as casas de diferentes celebridades, em Los Angeles, levando roupas, sapatos, jóias, relógios, entre outros objetos, num total estimado pela polícia em US$ 3 milhões. Entre as vítimas, estavam Paris Hilton, Lindsay Lohan, Megan Fox e Orlando Bloom, entre outros.

A conexão entre os crimes demorou a ser estabelecida e só ocorreu porque os jovens, orgulhosos e despreocupados, falavam alto sobre o que fizeram com outros amigos em baladas. E somente quando um deles, Nick Pugro, resolvou confessar tudo, foi possível compreender a real dimensão da história.

O caso atraiu toda a mídia americana, dos sites mais escandalosos, como o TMZ, aos jornais mais sérios, como o "The New York Times". Nancy Jo Sales, da "Vanity Fair", esmiuçou a história numa reportagem publicada na edição de fevereiro de 2010 da revista, com o título "Os suspeitos usavam Louboutin".

Reconstituindo a história, os hábitos e sonhos de consumo dos jovens acusados, a repórter notou o fascínio que as celebridades assaltadas exerciam sobre os ladrões. Rachel Lee, acusada de ser uma das líderes da gangue, era fã de muitas das vítimas.

Lee e Pugro acompanhavam o dia-a-dia de seus ídolos/vítimas pelo Twitter e Facebook. Antes de cada assalto, não tinham a menor dificuldade de encontrar no Google informações precisas sobre onde estavam, exatamente, os seus alvos.

Nancy Jo Sales se deu conta de que a maior parte das vítimas fazia parte de um tipo relativamente novo de celebridade, "as pessoas famosas por serem famosas". Mais que isso, a repórter constatou que "todas tinham aparecido em produções de cinema ou programas de TV sobre pessoas que eram ricas e famosas ou queriam ser ricas e famosas".

A reportagem de Nancy chamou a atenção da cineasta Sopia Coppola, que resolveu fazer um filme a respeito. "Bling Ring: A Gangue de Hollywood" tem estreia prevista no Brasil para o próximo dia 16 de agosto. A repórter da "Vanity Fair" ajudou no roteiro e, aproveitando o interesse que o caso despertou, desenvolveu a história em um livro com o mesmo título, recém-publicado (Intrínseca, 272 págs., R$ 24,90).

Para quem se interessa por este mundo, o livro é fascinante. A repórter mostra como, no fundo, todo mundo se beneficiou da notoriedade obtida pelo caso. Isso inclui, além das vítimas e dos próprios acusados, alguns de seus familiares, os policiais que investigaram, os advogados das vítimas e a própria autora.

"Bling Ring – A Gangue de Hollywood" é uma espécie de tratado sobre a fama e a celebridade. Não à toa, o caso, tal como descrito no livro, parece um reality show. Não vi ainda o filme de Sofia Coppola,  ela própria uma pessoa que conviveu com as benesses e os ônus da fama a vida inteira. Mas as críticas e as entrevistas que deu sugerem que a cineasta captou o espírito da coisa, ao não fazer um julgamento muito severo sobre os membros da gangue.

Pelo trailer (veja abaixo), o filme parece muito fiel ao livro:

 
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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.