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“Último Programa do Mundo” quer saber por que a TV brasileira está tão ruim

Mauricio Stycer

16/07/2013 11h39

No ótimo texto em que promoveu a estreia de "O Último Programa do Mundo", a MTV informou: "Um talk-show histérico esquizofrênico que muda de rumo o tempo todo. Tudo com direito a acesso aos arquivos mais vergonhosos de uma MTV em chamas." A criação de Daniel Furlan e Juliano Enrico se anuncia, ainda, como "sem propósito, sem chefe, sem direção, sem Ibope".

Se entendi direito o que vi na noite de segunda-feira, "O Último Programa do Mundo" é muito mais que isso. Falando sem parar, Furlan obviamente está tentando entender o que deu errado com a MTV. Mas acho que ele também quer saber, quando leva tapas na cara de seus assistentes, por que não há lugar para algo que vá além dos clichês e da obviedade na televisão brasileira.

Antes de falar a primeira das "frases que merecem tapa na cara", Furlan anuncia: "Aqui não tem anão. Aqui não tem cenário. Aqui não tem esquetes, não tem externas, não tem apresentadora infantil com roupa de piranha, não tem convidado que mora em outro Estado. Eu sou muito sincero…"

Posso ter entendido tudo errado, mas acho que ouvi, por trás do nonsense, o VJ enlouquecido (Furlan), o vice-cônsul de Honduras (Enrico) e o estagiário idoso (Caito Mainier) se perguntando: por que a TV brasileira está tão ruim e conservadora?

"O Último Programa do Mundo" vai ao ar de segunda a quinta, às 20h45.  O episódio de estreia pode ser visto abaixo.

Reproduzo abaixo, o texto de apresentação da MTV

Num mundo pós-apocalíptico, a sede de uma emissora de TV resiste em meio a escombros e tecnologia obsoleta. Os poucos funcionários que não fugiram estão desaparecidos ou vagam assustados pelo prédio em ruínas, sem trabalho, sem propósito, sem chefe, sem direção, sem Ibope.

O mais traumatizado pela catástrofe é Daniel Furlan, um ex-VJ em atividade que perdeu a sanidade e tomou um dos estúdios abandonados da emissora. Furlan é incapaz de aceitar a realidade e insiste em conduzir um talk-show sem sentido, auxiliado apenas por um militar aposentado, o misterioso Vice-Cônsul de Honduras (Juliano Enrico), além de um assistente de produção estagiário que ninguém sabe de onde surgiu.

Como seria um programa de entrevistas no fim dos tempos, quando não há quem entrevistar, não há anunciantes, não há audiência, não há diretor e não há equipe?

Um talk-show histérico-esquizofrênico que muda de rumo o tempo todo, indo da culinária-frescobol ao religioso de autoescola, passando pela zoo-luta-livre, numa mistura de influências que engloba programas dominicais italianos, Serginho Total, Alborghetti e aquele Vídeo Game com Angélica. Tudo com direito a acesso aos arquivos mais vergonhosos e abandonados de uma MTV em chamas.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.