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“Salve Jorge” está cada vez mais confusa, inverossímil e irritante

Mauricio Stycer

19/04/2013 02h51

À medida que se aproxima do final e a audiência melhora, "Salve Jorge" consegue a façanha de piorar. A novela está cada vez mais confusa, inverossímil e irritante.

Focada quase exclusivamente no conflito da gangue de Livia contra a heroína Morena e a delegada Helô, a novela relegou a segundo plano, quando não esqueceu, as inúmeras outras tramas que foram esboçadas em algum momento.

O herói da trama, Theo, virou um personagem sem sentido, quase um zumbi.  Transou "por vingança" com Livia, que se apaixonou por ele e passou a assediá-lo. Morena, seu grande amor, não contou a ele que tiveram uma filha e o mandou passear. Erica,esperando um filho dele, também o dispensou. Seu chefe, o coronel Nunes, o puniu. Só sobrou a mãe, Aurea, sempre ao seu lado.

Protegida pela Policia Federal, Morena fica num apartamento que não dispõe de segurança alguma. Sempre que alguém bate à porta, um policial espia pela fresta para ver quem é. A organização de Livia descobriu o local e montou uma arapuca para a heroína dentro de um túnel, no Rio. Morena escapou andando com o bebê nos braços.

Sabe-se lá como, já tarde da noite, a mãe e seu bebê chegaram à Igreja de São Jorge, que funciona 24 horas por dia. Rezava quando encontrou-se com Erica, que por coincidência também buscou a igreja no mesmo horário para chorar por Theo ("Foi São Jorge que te mandou aqui", diz Morena para a rival). Nada mais natural, depois de um diálogo inacreditável, a heroína deixou sua filha com Erica e fugiu. Já a vilã Wanda foi presa pela enésima vez porque brigou com um taxista.

Um bom exemplo das dificuldades de "Salve Jorge" pode ser visto em uma cena do capítulo de quarta-feira (17). Elcio, o rival de Theo, encontra-se com Livia, que o patrocina, no hotel onde ela mora (a grande vilã da novela, uma personalidade famosa, mora em hotel desde o primeiro capítulo). Elcio pede uma bebida e ela diz: "O frigobar é seu". "Vingativa", diz o militar antes de beijá-la.  Enquanto se beijam, toca o celular de Livia e ela faz a careta que se vê na imagem acima. O texto da cena é grosseiro e a direção mergulha no exagero. O conjunto é tosco, constrangedor para quem assiste.

A quem critica os exageros e a falta de lógica de "Salve Jorge", Gloria Perez diz que é preciso saber "voar". A autora reivindica o título de herdeira de Janete Clair (1925-1983), a rainha do melodrama na TV. Mas, como já observou o pesquisador e crítico Nilson Xavier, em "Salve Jorge" Gloria está mais próxima de Gloria Magadan (1920-2001), a cubana que fez sucesso na Globo no final dos anos 60 com tramas rocambolescas e sem sentido, de forte apelo popular.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.