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Para tentar explicar “brincadeira”, “Pânico” deixa o humor de lado e recorre até a psicólogo

Mauricio Stycer

15/04/2013 02h02

O "Pânico" sempre se orgulhou das confusões e polêmicas que causou. Fato raro, o programa deste domingo deixou de lado o bom humor que adota em todas as situações e, com a maior seriedade, tentar explicar a sua mais recente "brincadeira".

Estou falando, claro, da péssima repercussão das imagens do diretor Gerald Thomas colocando a mão por dentro do vestido de Nicole Bahls durante o lançamento do livro "Arranhando a Superfície", na Livraria da Travessa, no Rio, na última quarta-feira (10).

O programa recorreu a Jacob Pinheiro Goldberg, o mais midiático dos psicólogos, para ensinar ao público que as cenas exibidas ocorreram no contexto de uma encenação. "Gerald faz um teatro de provocação. Cada pessoa projeta numa cena de provocação suas próprias emoções. Tem gente que vai se sentir profundamente atingida, e é um direito deste indivíduo, e outros simplesmente vão achar graça, que é, me parece, o objetivo do Gerald."

Depois de ver uma das imagens do embate entre os dois, o psicólogo acrescentou: "Essa cena mostra que existe uma relação entre Nicole e Gerald de parceria. Os dois estão participando de uma cena. Não se pode considerar que o Gerald tenha sido vilão ou tenha agredido a Nicole. De qualquer maneira, cumpre registrar que a Nicole é irresistível".

Além de Goldberg, o próprio Gerald Thomas gravou um depoimento reforçando a ideia de que os gestos captados pelas lentes dos fotógrafos deveriam ser entendidos como uma brincadeira da qual ele participou em resposta às provocações que sofreu do "Pânico".

Daniel Zukerman, na pele do personagem Tucano Hulk, e Wellington Muniz, o Ceará, caracterizado como Micome Bahls, apresentaram Nicole a Gerald dizendo que se tratava da primeira vez da modelo na função de repórter. "Peraí, deixa eu ver o sexo real", diz o diretor, antes de colocar a mão dentro do vestido.

Antes, ele havia feito menção de abrir a braguilha da calça de Zukerman e apalpou as pernas de Ceará, que usava um vestido idêntico ao de Nicole. Ao longo de toda a reportagem, Gerald debocha dos repórteres e fala muitos palavrões.

Não ficou claro se a própria Nicole se convenceu do caráter teatral do gesto. Depois de ouvir a explicação, ela disse, dirigindo-se ao apresentador do"Pânico": "Emilio, eu não dou apoio pra ninguém… Se fosse na rua, eu ia processar, fazer o barraco todo", disse. Surita pareceu um pouco impaciente ao responder: "Eu tô falando, Nicole, no contexto de um programa de humor. É lógico que a gente não quer, de maneira alguma, violência contra a mulher".

Mesmo admitindo que possa ter sido de "mau gosto", Surita insistiu ao final do programa que o gesto de Gerald deve ser entendido como uma piada. "Isso aqui é um programa de humor ", disse, muito sério.

Parece claro, pelo esforço feito, que a repercussão da "brincadeira" de Gerald com Nicole causou desconforto ao programa. Resta ver se a explicação vai convencer.

Abaixo, veja como o "Pânico" apresentou a cena no programa de domingo (14):

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: Pânico exibe cena polêmica de Gerald Thomas e Nicole Bahls e critica "sensacionalismo da imprensa". Na quarta-feira, 11, quando as imagens foram divulgadas, procurei Alan Rapp, diretor do Pânico, que me disse, depois de ver as cenas gravadas na véspera: "Foi uma brincadeira do Gerald. Não foi uma agressão".

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.