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Band diz que “CQC” faz humor e não vê problema ético em entrevista com Genoíno

Mauricio Stycer

29/03/2013 05h01

Exibida no programa de segunda-feira (25), a entrevista do "CQC" com José Genoíno (PT-SP), feita por meio de um ator-mirim que mentiu e enganou o deputado, teve péssima repercussão, inclusive entre jornalistas da própria Band e na Cuatro Cabezas, a produtora do programa.

Procurada pelo blog, a emissora não viu qualquer problema ético na entrevista. Para a Band, o "CQC" é um programa de humor e como tal "corre o risco de desagradar algumas pessoas".

Sem conseguir falar com Genoíno, o "CQC" levou de São Paulo para Brasília o menino João Pedro Carvalho e seu pai, Ricardo, com a função de bater à porta do gabinete. Com a biografia do deputado em mãos, João se disse fã dele e pediu um autógrafo. O pai disse ao deputado que era petista e, com uma câmara, filmou a troca de palavras.

O recurso a uma mentira para obter algumas palavras do deputado pegou muito mal dentro do jornalismo da Band. A emissora chegou a hesitar se levaria ao ar a "entrevista". No ano passado, Ronald Rios conseguiu entrevistar a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) se fazendo passar por repórter de um canal universitário, mas a Band não permitiu que a reportagem fosse ao ar.

Proibidos de entrar no Senado, os repórteres do "CQC" foram autorizados a voltar à Câmara este ano. Dentro da produtora Cuatro Cabezas, a entrevista com Genoíno obtida mediante uma mentira é vista por alguns como um "tiro no pé" do programa. Pode abrir caminho para uma nova proibição.

João Pedro Carvalho é ator profissional. O seu trabalho mais conhecido foi na novela "Avenida Brasil", da Globo. Chegou a ser cotado para viver o personagem Batata, mas perdeu o papel para Bernardo Simões. Ganhou, em troca, o personagem Jerônimo, que teve muitas cenas na trama, junto com Nilo (José de Abreu).

Na tarde de quinta-feira (28), enviei as seguintes perguntas à emissora: 1. A Band aprova o procedimento utilizado pelo "CQC" para entrevistar Genoino? 2. O uso de um ator-mirim, que mentiu ao deputado, não fere as normas éticas da emissora? 3. Como a Band vê a repercussão negativa da entrevista? 4. Por que a Band vetou, em 2012, uma entrevista com Jaqueline Roriz, na qual o "CQC" também mentiu para a deputada, e nao vetou esta com Genoino?

A reposta foi a seguinte: "O CQC é um programa com o foco acentuado no humor, não pretende ofender o público e sim entretê-lo. Mas, como toda atração que trabalha com esse gênero, corre o risco de desagradar algumas pessoas."

Veja abaixo a entrevista:

[uolmais type="video" ]http://mais.uol.com.br/view/14334979[/uolmais]

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.