Topo

Neymar e a arte de não dizer nada em entrevistas

Mauricio Stycer

17/03/2013 15h15

Neymar tem 21 anos e atua profissionalmente pelo Santos desde os 17. Em menos de quatro anos, passou da posição de promessa à de maior revelação do futebol brasileiro. Essa rápida evolução fez com que se tornasse, também, o jogador mais assediado pela mídia.

O problema é que poucas vezes ele deu, que eu me lembre, uma entrevista interessante ou uma declaração bombástica ao longo destes anos. Por conta de sua formação, temperamento e treinamento, Neymar é especialista em respostas evasivas. Educado, mas tímido diante dos microfones, muito raramente gera notícia quando fala.

A insistência em entrevistá-lo é natural – todo mundo tem curiosidade em conhecer melhor o maior craque do país. Mas a frustração com os resultados das seguidas entrevistas de Neymar deve servir para alguma reflexão.

Pegue as duas últimas longas entrevistas que o jogador deu à Globo (no "Programa do Jô", há duas semanas, e no "Esporte Espetacular", neste domingo). Em ambas, os entrevistadores se esforçaram, sem sucesso, em fazer Neymar contar alguma história interessante, seja do seu trabalho, seja da vida pessoal.

A Jô Soares, depois de 30 minutos, o craque admitiu que foge de divididas com zagueiros. A Ivan Moré nem isso. Da conversa de 15 minutos com o jogador não sobra uma linha.  Moré chegou até a bajulá-lo de forma constrangedora: "As mulheres do Brasil hoje são todas loucas pelo Neymar", disse, sem conseguir arrancar nada do jogador.

O mais curioso na entrevista deste domingo foi a postura de Neymar, descalço com o pé em cima da cadeira do repórter, e a suposta intimidade de Moré, que o chamou de "Ney" e encerrou a conversa com um "Tamo junto".

Não sei qual é a solução, mas é visível que estas entrevistas, muito controladas, não rendem nada e ainda frustram quem assiste, por conta da expectativa gerada. Melhor mesmo é ver Neymar jogar.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.