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Globo se esforça para convencer o público que “Salve Jorge” trata de tema real

Mauricio Stycer

01/02/2013 11h54

Intensificou-se nos últimos dias o esforço de Gloria Perez, autora de "Salve Jorge", e da própria Globo em convencer o espectador de que o drama da protagonista da novela, Morena (Nanda Costa), baseia-se em fatos reais.

Mal teve início o capítulo desta quinta-feira (31), uma mulher não identificada apareceu na tela para dar um depoimento de um minuto sobre o seu infortúnio:

"Infelizmente, meu sonho virou pesadelo. Fui traficada, maltratada, lançada na prostituição sem querer e resgatada a tempo ainda. Infelizmente, minha amiga não teve a mesma sorte do que eu e outras meninas. Infelizmente, alguém tinha que morrer para a gente poder ser salva."

Ao final do primeiro bloco da novela, Zeca Camargo e Renata Ceribelli apareceram no vídeo para informar que o "Fantástico" vai mostrar este domingo uma reportagem sobre o assunto. O texto dito pelos apresentadores reforçou a ideia de que "Salve Jorge" não está inventando nada e, mais que isso, está ajudando no combate ao tráfico de mulheres.

O problema maior de Gloria Perez, creio, não é convencer o público que tráfico de mulheres existe. O problema é a novela.

O tema é ótimo. A dificuldade de convencer o espectador deve-se não a um eventual desconhecimento do assunto, mas à má condução da trama. O excesso de inverossimilhança atrapalha. Morena tinha um perfil no início da novela e, de uma hora para outra, mudou. Era esperta e arrojada e ficou boba, quase idiota. Os vilões são cômicos quando deveriam ser trágicos.

Quase nada faz sentido nas mirabolantes tramóias de Lívia (Claudia Raia) e sua turma. A mais recente, o sequestro de Morena por Russo (Adriano Garib, na foto acima) para levá-la de volta à Turquia beirou o cômico.

O esforço deveria ser no sentido de tornar a novela mais atraente e convincente.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.