Um olhar delicado sobre o agitado ano de 1971
Aproveito o sábado para uma dica de cinema: "Cara ou Coroa", de Ugo Giorgetti. O filme se passa em 1971 e conta, de um jeito muito carinhoso, histórias de pessoas comuns, afetadas pelo clima de repressão política, efervescência cultural e revolução de costumes que o Brasil vivia naquele momento.
Como em todos os filmes de Giorgetti ("Boleiros", "Sábado", "Festa", "O Príncipe"), o cenário é São Paulo. Outra marca do cineasta, admirável, é o elenco escolhido a dedo, nem sempre entre os rostos conhecidos da televisão, mas inevitavelmente perfeitos para os papéis.
O de "Cara ou Coroa" inclui Octavio Augusto como um taxista conservador, Emilio de Mello como diretor de teatro, Julia Ianina e José Geraldo Rodrigues vivendo um casal de estudantes apaixonados (na foto do alto), além de Walmor Chagas no papel de um general aposentado.
Não custa repetir que "Cara ou Coroa" não é um filme violento, não mostra cenas de tortura ou repete clichês sobre a ditadura militar. Procura contar histórias de pequenos gestos, de gente que viveu e tentou entender aqueles dias. "São momentos tão incompreensíveis que parecem inventados", diz um personagem.
Fiz uma entrevista com Giorgetti, publicada esta semana no UOL. Ele explica muito bem o filme, a sua intenção e o seu olhar sobre aquele período. O cineasta também fala do mercado distribuidor, incapaz de encontrar espaço adequado para filmes adultos, como o dele. É um desabafo forte, que merece, na minha opinião, a sua atenção.
Veja aqui: "O público inteligente que resta não quer mais saber de cinema", diz cineasta Ugo Giorgetti.
Uma crítica ao filme pode ser lida aqui. Fotos de cenas podem ser vistas neste álbum. E abaixo, o trailer:
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