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Record faz bom trabalho nos Jogos, mas perde o foco por causa do Ibope

Mauricio Stycer

13/08/2012 21h38

A Record transmitiu os Jogos Olímpicos com um olho no público e outro na Globo. Essa dupla preocupação serviu de estímulo para uma cobertura, de um modo geral, de excelente qualidade, mas também levou a emissora, em diversas ocasiões, a perder o foco do que realmente importava.

Saltou aos olhos o investimento feito na equipe, a preocupação de não repetir erros cometidos no Pan e o esforço de equilibrar informação com emoção, uma receita sempre difícil em eventos esportivos que envolvem competições entre países.

O time de narradores da Record mandou quase sempre muito bem – Lucas Pereira, Mauricio Torres, Alvaro José, Octavio Muniz e Eduardo Vaz se mostraram preparados e, ao mesmo tempo, sensíveis aos apelos emocionais das disputas.

A aposta em ex-atletas como comentaristas funcionou bem menos. Poucos conseguiram acrescentar algo digno de nota. A maioria se comportou ou como amigo dos atletas ou torcedor. Destaco Oscar como uma exceção. Entende do esporte, no caso, basquete, consegue transmitir informação e, ao mesmo tempo, é muito engraçado.

Não houve, como no Pan, transmissões feitas com imagens recuperadas, mas apresentadas como "ao vivo". A emissora se preocupou nitidamente em informar o que era "ao vivo" e o que não era.

A Record se orgulha de ter realizado 165 horas de transmissões durante os Jogos. Afirma que este número é maior do que a Globo mostrou tanto em Pequim (2008 ) quanto em Atenas (2004). A emissora também está batendo o bumbo por ter exibido 24  modalidades olímpicas diferentes.

Com base em pesquisas e nas experiências feitas nos Jogos de Inverno (2010) e no Pan (2011), a Record apostou em longas transmissões de eventos esportivos com apelo "plástico" – ginástica, nado sincronizado, saltos ornamentais etc. Muitas vezes, foram transmissões chatíssimas, mas que, na visão da emissora, podem ter rendido pontos preciosos no Ibope.

No seu esforço para se afirmar como uma competidora à altura da Globo, a Record estabeleceu como obsessão superar a rival no Ibope. Os resultados, neste sentido, foram aquém do esperado. A emissora afirma ter sido líder de audiência em 36 horas, ou seja, em 22% das suas transmissões.

As transmissões de sábado (finais do futebol e do vôlei feminino) e domingo podem melhorar um pouco esses números, mas ainda assim deixam um gosto amargo.

Estivesse focada mais no público e um pouco menos na Globo e no Ibope, acho que a Record teria feito um trabalho melhor e estaria se sentindo ainda mais vitoriosa ao final destas duas semanas.

Publicado originalmente no domingo, no site UOL Olimpíadas, este texto  foi atualizado nesta segunda-feira com os dados divulgados pela Record no início da noite.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.