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O dia em que Rafinha Bastos me chamou de “cobrinha”

Mauricio Stycer

31/07/2012 01h36

Levei um susto ao consultar o Twitter ao final do "Roda Viva", no qual fui um dos entrevistadores de Rafinha Bastos. Havia quase uma centena de comentários mencionando o meu nome, muitos deles relacionados a um momento da entrevista em que, respondendo a um questionamento, o humorista me chamou de "cobrinha".

Em clima de jogo de futebol, muita gente festejou o comentário de Rafinha, mas também houve quem tenha se indignado com a ofensa e esperado uma resposta minha.

Não vi, de fato, motivos para responder. Para quem não assistiu ao programa, vou tentar resumir o que levou o humorista a fazer este comentário.

O tema principal da entrevista foi a piada que fez com Wanessa Camargo ("comeria ela e o bebê"), que resultou na sua suspensão, pela Band, e posterior saída da emissora.

No início do terceiro bloco, o apresentador e mediador do programa, Mario Sergio Conti, observou que o tipo de humor que Rafinha faz parece ser mais adequado à internet ou TV paga do que à TV aberta. Rafinha concordou e disse: "Não sou uma figura de televisão aberta. Acho que o que aconteceu na Bandeirantes pode continuar acontecendo em outros lugares".

Observei, então, que o problema ocorrido na Band, na minha opinião, não devia ser creditado ao "politicamente correto", como o próprio humorista e o entrevistador Guilherme Fiúza haviam sugerido no bloco anterior, mas ao próprio estilo de humor de Rafinha.

Argumentei que se ele fizesse, há 30 anos, as mesmas piadas politicamente incorretas que Renato Aragão fazia com Mussum, sem chocar ninguém, a repercussão já seria péssima naquela época.

Rafinha respondeu dizendo que considera o seu estilo tão leve e despretensioso quanto o do criador dos Trapalhões:

"Assiste o vídeo eu fazendo a piada do bebê. Vê como meus colegas riram. Vê como a plateia ri. Sente a leveza daquilo. A graça do Didi, de fazer aquilo despretensiosamente, pra mim, é a mesma. O que complica é a repercussão que as cobrinhas, que nem você, no outro dia, criam em torno disso. Você passa o dia inteiro assistindo as coisas pra ver que merda você vai falar das pessoas."

Como o humorista entende que tem a mesma graça do Didi, a culpa pelo que aconteceu é dos jornalistas. O que responder? Espero ter demonstrado aos que esperavam uma resposta minha por que não há o que dizer a este gênio do humor.

Em tempo: Apesar deste momento, a entrevista foi ótima. Rafinha fez comentários muito bons sobre o "CQC" ("Hoje é um programa bundão"), sobre o "Saturday Night Live" ("Não é o programa do Rafinha"), sobre Danilo Gentili ("Pediu desculpas, hoje tem um talk show"), sobre plágio ("'Zorra Total' já copiou piada minha") e sobre o trabalho que faz ("O comediante preocupado com a repercussão do que faz perde a graça"). Há vários outros bons momentos na entrevista, recomendo. A íntegra está aqui. Sou chamado de "cobrinha" no minuto 61.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.