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Prada no museu

Mauricio Stycer

14/05/2012 06h01

Realizada em escala industrial para atender o consumo, a produção têxtil pode eventualmente alcançar status de arte. Diferentes museus no mundo têm se dedicado a colecionar peças e a exibir exemplos da produção de estilistas que, com ousadia, criatividade excepcional ou, mais simplesmente, sensibilidade e sorte, fizeram a moda ocupar um lugar na cultura contemporânea.

O mais recente evento a unir moda e arte num mesmo ambiente é a exposição "Schiaparelli e Prada – Diálogos Impossíveis", recém-aberta num dos mais tradicionais museus do mundo, o Metropolitan, de Nova York.

O evento coloca lado a lado as roupas criadas na década de 30 por Elsa Schiaparelli, um dos nomes mais importantes da moda no século 20, e as coleções contemporâneas de Miuccia Prada, uma das muitas estilistas que se consagraram nas últimas duas décadas no mercado de luxo.

As salas do museu se transformaram em grandes vitrines, permitindo ao público contemplar as ousadas criações das duas mulheres e ao mesmo tempo ouvi-las falar sobre suas visões de moda.

Um filme dá vida a este "diálogo impossível". Uma atriz, Judy Davis, vive Schiaparelli e conversa com Prada em torno de uma mesa. Falam do desafio de criar, de suas idéias sobre luxo, das exigências do mercado…

Schiaparelli desenvolveu uma parceria com Salvador Dali, que resultou em obras espantosas, como um chapéu em forma de sapato, entre outras ousadias e loucuras com a marca do surrealismo. Prada diz que não tem a pretensão de fazer arte.

As fronteiras ente arte e comércio estão indistinguíveis já faz tempo. Mesmo assim, há motivo para surpresas na exposição. Uma das peças exibidas no museu é da mais recente coleção da Prada, provavelmente à venda em uma de suas lojas espalhadas pelo mundo.

Ao final da mostra, o espectador cai dentro de uma sala onde são vendidos, na mesma estante, replicas em miniatura de um dos sapatos mais originais de Schiaparelli por US$ 30 e um lenço da Prada por US$ 420.

Pelo menos, não é a própria Miuccia Prada quem financia o evento. Evita, assim, o escândalo ocorrido quando outro museu tradicional, o Guggenhein de Nova York, exibiu uma mostra dedicada a Giorgio Armani, dez anos atrás, depois que o próprio estilista fez uma doação milionária à instituição.

Sinal dos tempos, no lugar de grandes bancos ou poderosas multinacionais, "Schiaparelli e Prada – Diálogos Impossíveis" tem patrocínio da Amazon, a maior empresa de comércio online em atividade, e conta com apoio da Condé Nast, grupo editorial responsável por revistas como "Vogue", "Vanity Fair" e "New Yorker".

Mais informações sobre a exposição podem ser lidas nesta reportagem do UOL.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.