Topo

Executivo da Fifa deu “chute no traseiro” da própria entidade ao vender Copa para a Globo, diz Record

Mauricio Stycer

28/03/2012 02h34

A Record ainda não engoliu a decisão da Fifa de negociar os direitos de transmissão das Copas de 2018 e 2022 diretamente com a Globo, cancelando uma licitação que prometeu fazer.

Na manifestação mais contundente sobre o assunto desde que, no final de fevereiro, a concorrente anunciou a compra do evento,  Honorilton Gonçalves (foto), vice-presidente de programação da Record, classificou o gesto da Fifa como "um chute no traseiro" da própria entidade. O termo foi uma referência à gafe de Jerôme Valcke, secretário-geral da Fifa, que disse que o Brasil precisva de "um chute no traseiro" para acelerar os preparativos para a Copa de 2014.

"Acho, sinceramente, que deram um chute no traseiro da Fifa", disse Honorilton. "Foi um chute que os próprios executivos da Fifa deram na entidade. A Fifa com certeza vai perder dinheiro", observou, em conversa com alguns jornalistas na noite de terça-feira, durante o lançamento da programação da emissora para 2012.

Segundo Honorilton, o caso está hoje nas mãos dos advogados da Record. A decepção com o comportamento da Fifa é grande: "Estive pessoalmente com Niclas Ericson, diretor da Fifa para TV. Enviamos a ele um documento nos comprometendo com todas as exigências da Fifa para participar da licitação. Ele me disse que iria abrir esta licitação depois da Copa de 2014."

Só para se ter uma ideia dos valores envolvidos no negócio, os direitos de transmissão das Copas de 2018 e 2022 foram vendidos nos Estados Unidos por US$ 1 bilhão, para as redes Telemundo e Fox. "No Brasil seria um pouco menos", estima Hororilton.

O executivo também manifestou irritação com Marcelo Campos Pinto (foto), executivo da Globo Esportes, que disse no início de março: "Quando a Record conseguiu os direitos dos Pan-Americanos de 2015, 2019 e 2023, ela renovou unilateralmente com a Odepa [Organização Desportiva Pan-Americana] e a Globo não falou nada. A Globo acha natural o dono do direito decidir. Agora eles estão reclamando do quê?",

"A Globo foi chamada para a compra dos direitos do Pan", respondeu Honorilton na noite de terça-feira. "Eles são inocentes. Começaram agora", ironizou.

Outro assunto que animou o vice-presidente da Record foi a reclamação de que a emissora estaria criando dificuldades para o credenciamento de profissionais do SporTV  para os Jogos Olímpicos de Londres, em julho. "A Globo dificultou a ida do SporTV a Pequim, em 2006. Nós facilitamos", voltou a ironizar.

O SporTV, como se sabe, pertence às organizações Globo. Segundo Honorilton, a Globo, dona dos direitos de transmissão dos Jogos de Pequim, deu 26 credenciais para o SporTV em 2008. "Estamos dando 40. Somos generosos. Mais generosos que a Globo".

Honorilton disse que a Record revendeu os direitos de transmissão em TV paga dos Jogos de Londres para  Globosat. "Se eles quisessem ficar só para eles, teriam 80 credenciais. Era só não ter revendido para Band e ESPN", completou.

Em tempo: Para entender o caso, recomendo a leitura dos seguintes textos, listados em ordem cronológica:

Globo fecha contrato de transmissão da Copa do Mundo de 2018 e de 2022


Record protesta contra acordo entre Globo e Fifa e ameaça ir à Justiça

Diretor da Globo explica opção da Fifa: "Estamos mil anos à frente da Record"

Record chama Globo de arrogante e vê negociação por Copa como "sombria"

Fifa vendeu Copas de 2018 e 2022 por mais de US$ 1 bilhão para emissoras americanas

Fotos: Flavio Florido/UOL e Divulgação/Grêmio

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.