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Ufanismo patético esconde dificuldades do cinema brasileiro no Oscar

Mauricio Stycer

27/02/2012 11h35

Com todo respeito a Sergio Mendes, Carlinhos Brown e Carlos Saldanha (foto acima), foi patético ver tanta gente torcer apaixonadamente por um Oscar para "Real in Rio", uma canção repleta de clichês, cantada em inglês, tema de um filme tão brasileiro quanto "Uma Noite no Rio", com Carmen Miranda.

Assim como a medalha de ouro que o futebol nunca conquistou em Jogos Olímpicos, o Oscar se tornou objeto de uma veneração quase divina e irracional.

Se o Oscar é importante para a indústria cinematográfica brasileira, seria o caso dela discutir o assunto seriamente. Se não é, deveríamos tratar desta festa com mais humor. A seriedade e, pior, o ufanismo nas últimas semanas por causa de "Real in Rio" beirou o ridículo.

A última produção brasileira indicada ao Oscar de filme estrangeiro foi "Central do Brasil", em 1999 – há 13 anos. Em 2004, "Cidade de Deus" conseguiu quatro indicações (direção, roteiro, fotografia e edição), por méritos, além das suas qualidades, de seus distribuidores americanos. E em 2011, "Lixo Extraordinário" concorreu como melhor documentário.

Definir critérios, por exemplo, para a escolha dos filmes a indicar, seria um primeiro passo para quem vê importância na estatueta. Métricas diferentes têm sido usadas a cada ano, ao sabor das comissões montadas para escolher o filme. O maior sucesso do ano anterior ou a produção mais ousada? Um filme para agradar os americanos ou aquele que tem a cara do cinema brasileiro? Aliás, qual é a cara do cinema brasileiro?

Essa é uma discussão longa e difícil, que muita gente séria está tentando levar adiante. O problema, porém, foi esquecido, por alguns instantes, quando "Real in Rio" virou "o Brasil no Oscar". Agora que a miragem se desfez é hora de voltar a pensar no assunto.

Leia mais: Não foi dessa vez, mas valeu muito, diz Carlinhos Brown. E o site do UOL Cinema sobre o Oscar está aqui.

Foto: Reuters

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.